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O mundo da energia em 2030. Rússia com menos poder, China com menos apetite, carros elétricos imparáveis e offshore e solar a disparar

A tensão no Médio Oriente ameaça provocar uma nova crise energética nos mercados mundiais, avisou a Agência Internacional de Energia.

"Estamos a enfrentar uma grande crise geopolítica que pode provocar ondas de choque nos mercados de petróleo. Muitos produtores de petróleo estão no Médio Oriente", o diretor-executivo da Agência Internacional de Energia (IEA) Fatib Birol entrou a matar na conferência de imprensa de apresentação do World Energy Outlook 2023.

Ainda a Europa está a refazer-se do choque energético provocado pela invasão russa da Ucrânia e já está com uma nova crise geopolítica em mãos com a tensão em Israel e na Faixa de Gaza.

A agência sediada em Paris prevê que o consumo de combustíveis fósseis atinja um máximo esta década. Curiosamente, há apenas duas semanas o Outlook 2045 da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) previa um aumento de 16% no consumo de crude nas próximas duas décadas, com um investimento total necessário de 14 biliões de dólares.

A IEA prevê que até 2030 as energias renováveis pesem 80% na nova potência, que o número de carros elétricos aumente em quase 10 vezes, que a China reduza o seu consumo energético fruto do seu abrandamento económico, ou que a Rússia não consiga recuperar a sua posição de domínio global no mercado de gás natural.

1 - Tensão no Médio Oriente. Mais de um ano e meio depois da invasão russa da Ucrânia, a instabilidade no Médio Oriente ameaça provocar uma "maior disrupção nos preços e mercados de energia". A IEA aponta que isto sublinha as fragilidades do mundo sustentado a combustíveis fósseis, sublinhando os benefícios da energia de segurança, derivados das renováveis. "A situação tensa no Médio Oriente reaviva os problemas nos mercados de petróleo um ano depois da Rússia ter cortado o fornecimento de gás à Europa. A monitorizção da segurança do petróleo e do gás continua a ser essencial para a transição energética", segundo o relatório que aponta que as vendas de petróleo do Médio Oriente à Ásia vão subir dos 40% atuais para os 50% em 2050, apontando que a Ásia é também o destino final de quase todo o fornecimento adicional de gás natural liquefeito (GNL).

2 - Veículos elétricos. O relatório salienta a ambição imparável dos carros elétricos. Há dois anos, em cada 25 automóveis vendidos em todo o mundo, um era elétrico. Este ano, um em cada cinco vendidos, é elétrico. Em 2030, quase um em cada dois será elétrico. Se mais governos apostarem nesta transição, ainda existe espaço para maior crescimento, sublinhou o diretor-executivo da IEA.

3 - Offshore. O investimento em eólicas offshore vai atingir este ano metade do investimento previsto em novas centrais a carvão e a gás natural, "mas isto está a mudar e rapidamente", disse Fatih Birol. Até 2030, o investimento em eólicas offshore será três vezes superior às centrais a carvão/gás.

4 - Combustíveis fósseis em queda. Atualmente, os combustíveis fósseis pesam 60% no mix de produção de eletricidade contra 60% há sete ano, mas até 2030 este peso vai cair para 30% com o "crescimento muito forte do solar, vento e outras renováveis que estão a empurrar os combustíveis fósseis para fora da produção de eletricidade", segundo o líder da IEA que deixou um aviso: "Isto não significa que não precisemos de mais investimento [em combustíveis fósseis], ainda precisamos de petróleo e gás".

5 - Gás natural. A produção de gás natural liquefeito vai disparar nos próximos anos. Até 2025, a produção vai crescer 50% face aos valores atuais. "Isto vai ter um impacto nos mercados de gás em todo o mundo, vai aliviar os problemas de fornecimento e meter pressão baixista nos preços", de acordo com Fatih Birol.

6 - China. A China está a perder peso economicamente e isso é bom. Com o abrandamento económico do país, também recua o seu apetite insaciável por combustíveis fósseis. Nos últimos 10 anos e a nível global, a China foi responsável por consumir dois terços do petróleo, um terço do gás e quase todo o carvão, com crescimentos económicos de 6% ao ano que impulsionou um "forte crescimento do consumo energético". "Mas agora a China está a mudar. A economia está a abrandar, a reequilibrar-se, a economia não precisa de muito mais aço, cimentos, mais casas ou infraestruturas de transporte. Acreditamos que o abrandamento da economia chinesa vai ter grande impacto na procura por combustíveis fósseis", sublinhou o responsável da IEA.

7 - Desafios. Os projetos de energias renováveis estão a "enfrentar ventos adversos em alguns mercados derivados da subida dos custos, gargalos na cadeia de abastecimento e custos mais elevados de financiamento", segundo a agência que destaca que o consumo de petróleo, carvão e gás vai atingir um pouco esta década, mas que as taxas de declínio variam.

8 - Solar a iluminar o caminho. Só este ano vão ser adicionados 500 gigawatts de nova potência renovável, um novo recorde. Só em energia solar, o investimento atinge mil milhões de dólares por dia. Até 2030, a IEA espera que entrem em operação 70 gigawatts de potência solar por ano, e isto só na América Latina, África, Sudeste Asiático e Médio Oriente. "A energia solar sozinha não consegue que o mundo cumpra as metas climáticas, mas, mais do que qualquer outra tecnologia limpa, pode iluminar o caminho", pode-se ler.

9 - Rússia perde gás. Dificilmente Moscovo voltará a ter a mesma fatia do mercado mundial do gás, conclui a IEA. "Existem oportunidades muito limitadas para a Rússia assegurar mercados adicionais", segundo o documento que aponta que a fatia de 30% registada em 2021 irá recuar para metade em 2030, apesar da Gazprom ter anunciado recentemente que as vendas por pipeline para a China irão atingir níveis semelhantes às vendas para a Europa ocidental pré-invasão da Ucrânia.

10 - Combustíveis fósseis atingem pico até 2030. O consumo de carvão, gás natural e petróleo vai atingir o seu máximo até 2030. A partir daí, o consumo de carvão vai sofrer uma queda assinalável, mas tanto o petróleo como o gás vão manter-se em níveis próximos do pico durante as próximas duas décadas. A IEA avisa que o uso de combustíveis fósseis continua "muito elevado" para cumprir o acordo de Paris que visa limitar o aumento da temperatura global a 1,5 graus centígrados. Se os governos não atuarem, a temperatura média global pode subir 2,4 graus este século. A agência considera que existe o risco de agravar os impactos climáticos depois de um ano que deverá bater o recorde máximo de calor, o que também coloca em causa a segurança do sistema energético "que foi construído para um mundo com menos calor e com menos fenómenos metereológicos extremos".