No coração dos Alpes suíços, nas margens do Lago Genebra, na terra dos bancos e da descrição encontra-se o Porto Franco de Genebra, que poderia ser o cenário para um filme de James Bond. Vigiado por câmaras e rodeado por vedações de arame farpado, este complexo é tradicionalmente uma zona alfandegária, onde as mercadorias são guardadas antes de serem exportadas para o estrangeiro. Mas atualmente tornou-se um local de armazenamento permanente com 150 mil metros quadrados pela cidade de Genebra alugado a transportadores ou indivíduos privados para proteger os seus bens. Atrás destas portas duplas há quadros, ouro, jóias, diamantes e antiguidades. É também a maior garrafeira do mundo com três milhões de garrafas, tendo ganho o estatuto de “maior adega” do mundo.
O edifício principal — um grande bloco de cimento sem janelas — abriga áreas subterrâneos construídos para resistir a terremotos e incêndios. Lá dentro, os objetos são mantidos em salas climatizadas e controladas por humidade, trancadas atrás de portas blindadas sem identificação, com leitores biométricos.
É uma espécie museu que ninguém pode visitar, onde estão obras de Picasso, Rembrandt, Leonardo da Vinci, Klimt, Renoir, Warhol e Van Gogh. Outro segredo é o nome dos donos das obras. A crítica de arte Marie Maertens estima que cerca de 1,2 milhão de obras estejam guardadas ali — seis vezes mais que o acervo do MoMA (Museu de Arte Moderna) em Nova Iorque.
O conteúdo não pertence a uma única instituição — mas a um grupo variado de negociantes, colecionadores e empresas que valorizam o anonimato e a segurança oferecida pela instalação suíça. Os portos francos de Genebra funcionam como zonas livres de impostos, o que permite aos proprietários manterem as suas mercadorias indefinidamente sem pagar taxas ao mesmo tempo em que evitam o escrutínio das autoridades sobre a origem ou a propriedade desses bens.
De acordo com relatórios independentes, a posse das mercadorias pode mudar várias vezes de dono antes da exportação, desde que seja apresentado à alfândega os documentos de transferência de nome. Os dados apontam para que mais de um milhão de obras de arte passem todos os anos pelos portos francos europeus. Além disso, consultores, avaliadores e intermediários de arte estão diretamente ligados, dependendo deles para os seus negócios.
Em 2010, o Grupo de Ação Financeira contra Lavagem de Dinheiro publicou um relatório em que revela que as zonas de livre comércio – nas quais se incluem os portos francos – representam uma ameaça de reciclagem de dinheiro e financiamento terrorista, em consequência, de proteção inapropriada, acentuado descuido e fracas inspeções.
Genebra não é uma cidade portuária; possui apenas um pequeno porto às margens do lago de mesmo nome. Ainda assim, por estar no cruzamento de várias rotas europeias, realiza feiras internacionais desde o século XIII, o que a tornou um dos principais centros comerciais da Europa. Hoje, é sede de muitas organizações internacionais, incluindo diversas agências das Nações Unidas, e é um dos centros financeiros mais importantes do mundo.
O cofre mais secreto do mundo
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É resistente a terramotos, tem portas blindadas e o acesso é feito por biometria. O Porto Franco de Genebra oferece segurança e ausência de impostos, permitindo que bens preciosos (legais ou nem tanto) fiquem protegidos. Ao longo da história foi alvo de vários escândalos e chegou a funcionar como armazém de obras de arte roubadas.