O primeiro grande desafio da candidatura de Nuno Melo à presidência do CDS-PP será juntar todos os que não se reveem na liderança de Francisco Rodrigues dos Santos. Um objetivo que à partida não se afigura fácil, perante as notórias divergências entre a oposição interna - incluindo alguns daqueles que estiveram ao lado do atual presidente em 2020, quando sucedeu a Assunção Cristas ao derrotar João Pinho de Almeida no congresso de Aveiro -, mas que pode concretizar-se devido à convicção, partilhada por todos, de que é preciso encontrar uma solução para “não permitir que levem o partido para o fundo”.
Aquilo que irá acontecer às 15h00 de sábado no Palácio da Bolsa, no Porto, na véspera do Conselho Nacional destinado a analisar os resultados das autárquicas e marcar um congresso que pode decorrer já no final de novembro, será o resultado daquilo que o eurodeputado disse logo em julho, nas jornadas parlamentares centristas, que seria a sua leitura do “estado geral do partido”.
Apesar de Nuno Melo ter recusado adiantar o que terá para dizer no momento da apresentação da candidatura, ninguém espera menos do que uma crítica contundente a FranciscoRodrigues dos Santos. Apesar de o líder conhecido por ‘Chicão’ defender que a marca da sua liderança “tem sido o reforço do poder do CDS-PP na governação”, participando nos executivos dos Açores e da Madeira, além de as últimas autárquicas terem permitido que os centristas liderem “sozinhos ou em coligação cerca de 50 câmaras municipais, entre elas oito capitais de distrito, incluindo Lisboa e Porto”, faltando apenas “levar a marca deste CDS-PP ao governo de Portugal”.
Sendo certo que Nuno Melo poderá contar com a maioria dos antigos apoiantes de João Pinho de Almeida, as atenções estarão centradas nos ‘avanços’ que poderá conseguir junto daqueles que estiveram ao lado de Francisco Rodrigues dos Santos. Nomeadamente entre as estruturas locais do Norte, onde o facto de o eurodeputado ser também presidente da distrital de Braga do CDS-PP, é um indicador de que há terreno a ganhar, esperando que o mesmo possa suceder também na distrital do Porto.
Quanto à Juventude Popular, que era liderada por Rodrigues dos Santos no início de 2020, existe a perspetiva de “pluralidade” de visões face às duas candidaturas até agora anunciadas. “É natural que haja visões e sensibilidades diferentes quanto ao que o partido deve fazer”, disse ao Jornal Económico Francisco Camacho, atual presidente dessa estrutura.
“Vamos a este congresso soltos e livres”, acrescentou, antecipando que não haverá delegados “só afetos a uma fação”. E mesmo estando previsto que o tema da liderança do partido seja discutido num Conselho Nacional da Juventude Popular a realizar no início de novembro, Francisco Camacho garante que os delegados da estrutura “não serão um bloco eleitoral”.
Quanto a Filipe Lobo d’Ávila, que se juntou em Aveiro a ‘Chicão’, chegando a ser o primeiro vice-presidente da sua direção até se demitir, a prioridade passa pela “pacificação do partido”. Numa entrevista ao ‘Novo’ recordou que a sua tendência Juntos pelo Futuro nasceu para apoiar a (não concretizada) candidatura de Nuno Melo à liderança na altura em que AssunçãoCristas ficou à frente do CDS-PP, mas realçou que as “circunstâncias políticas que existiam há cinco anos eram substancialmente diferentes”.