Se há país europeu que valoriza a previsibilidade e a continuidade da ação política e da sua influência na economia e na sociedade, esse país é a Alemanha. Desde Konrad Adenauer, chanceler entre setembro de 1949 e outubro de 1963 (o primeiro após o nazismo), que é possível encontrar-se uma linha condutora onde não só as metas como também a forma de as atingir obedecem a regras definidas, claras e o mais possível universais.
Com muito poucos percalços ou momentos críticos observáveis nas últimas sete décadas – talvez com as exceções dos Baader-Meinhof (ou Fração do Exército Vermelho) e do período de reunificação –, os observadores convergem na opinião de que o novo governo de coligação entre sociais-democratas (SPD), liberais (FDP) e verdes, que acaba de ser apresentado, não terá qualquer semente de revolução.
Os alemães agradecem a falta de trepidação no caminho que vão continuar a percorrer, tal como o resto dos europeus – que só distraidamente podem pensar que o executivo de Berlim nada tem a ver com as suas vidas. Apesar de tudo, como disse ao JE o analista Francisco Seixas da Costa, é precisamente na projeção do novo executivo fora da Alemanha que se estabelecem as maiores (mas não muito grandes) dúvidas. E isto porque as duas pastas que mais impactam na vida dos europeus não residentes na Alemanha estão nas mãos das formações mais pequenas – sempre expostas à tentação de assumirem fora das fronteiras o protagonismo que lhes falta em casa: como se esperava, as Finanças foram atribuídas ao líder do FDP, Christian Lindner, e os Negócios Estrangeiros à co-presidente dos Verdes, Annalena Baerbock.