No âmbito das negociações em Viena para reatar o Plano de Ação Abrangente Conjunto (JCPOA) de 2015, reiniciadas nesta semana em Viena, o Irão apresentou duas propostas concretas como base de trabalho: o levantamento das sanções impostas pelos Estados Unidos, União Europeia e Nações Unidas e a reversão dos avanços de Teerão no seu programa nuclear desde que, em 2018, os norte-americanos abandonaram o perímetro do acordo.
O ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Hossein Amir-Abdollahian, escreveu nesta quinta-feira no Twitter que as negociações na capital austríaca estão “a avançar com seriedade” e que a retirada das sanções é uma “prioridade fundamental” – linha vermelha em que Teerão tem insistido. Amir-Abdollahian escreveu que o regresso do acordo com as potências mundiais – os Estados Unidos participam apenas indiretamente por imposição de Teerão, dado que neste momento não fazem parte do grupo de subscritores – está “ao alcance” dos envolvidos, mas que um desfecho positivo depende agora, face à proposta, da boa vontade do Ocidente.
“Os elementos dessa proposta serão construídos sobre o que foi acordado nas últimas seis rondas de negociações entre o Irão e as potências mundiais. No entanto, novos pontos foram adicionados, após serem desconsiderados nas negociações anteriores, e o Irão acredita que são cruciais para se chegar a um acordo”, disse uma fonte próxima do processo de Viena à estação de televisão Al Jazeera.
Ali Bagheri Kani, principal negociador da equipa iraniana, disse aos jornalistas presentes em Viena que “entregámos o rascunho da proposta. É claro que eles precisam verificar os textos que lhes fornecemos. Se estão prontos para continuar as negociações, nós estamos em Viena para as continuar”.
Para já, não são conhecidas reações por parte das potências presentes – Alemanha, China, França, Reino Unido e Rússia –, o que pode significar que estes países não ficaram tão entusiasmados como Hossein Amir-Abdollahian sobre o caminho que as negociações estão a tomar.
Muito pouco entusiasmado está decerto o governo de Israel, que voltou a pedir às potências envolvidas que não se deixem iludir pelas palavras de Teerão. E pediu às potências mundiais que interrompessem as negociações imediatamente, citando palavras de um membro da ONU que afirmou que o regime de Teerão começou a produzir urânio enriquecido com centrifugadoras mais avançadas.
“O Irão está a fazer chantagem nuclear como tática de negociação e isso deve ter como resposta a suspensão imediata das negociações e a implementação de novas medidas pelas potências mundiais”, disse o gabinete do primeiro-ministro Naftali Bennett. O chefe do governo israelita telefonou nesta quinta-feira a Antony Blinken, tentando encontrar apoio da parte da administração Biden – mas para já não houve reação do lado da Casa Branca, o que permite que se infira que os democratas não farão nada que os possa culpar de acabar de vez com as negociações.
O objetivo do acordo é tornar impossível para o Irão construir uma bomba atómica e ao mesmo tempo permitir que o país desenvolva um programa nuclear civil.