A partir desta terça-feira, 4 de fevereiro, o Canadá e o México enfrentam um agravamento das taxas de entrada dos seus produtos nos Estados Unidos da ordem dos 25%, ficando um agravamento de 10% destinado à China. A União Europeia também terá que enfrentar a mesma ‘barreira’, mas ainda não há uma decisão conhecida sobre a matéria.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou as ordens executivas este sábado, ameaçando desencadear uma guerra comercial que pode interromper mais de 2,1 biliões de dólares em comércio anual, avança a imprensa norte-americana. Trump, que esteve a trabalhar na sua propriedade em Mar-a-Lago, na Flórida, este fim-de-semana, disse na sexta-feira que havia pouco que os três principais parceiros comerciais pudessem fazer para evitar as novas tarifas.
Com apenas 12 dias de segundo mandato, Trump prometeu prosseguir com o aumento das taxas, apesar de reconhecer que a medida pode causar perturbações e dificuldades para as famílias norte-americanas. Um modelo que mede o impacto económico do plano tarifário de Trump, do economista-chefe da EY Greg Daco, sugere a medida pode reduzir o crescimento dos Estados Unidos em 1,5 ponto percentual este ano, e lançará o Canadá e o México na recessão e na estagflação. "Enfatizamos que grandes aumentos de tarifas contra parceiros comerciais dos EUA podem criar um choque estagflacionário — um impacto económico negativo combinado com um impulso inflacionista — ao mesmo tempo que desencadeiam volatilidade no mercado financeiro", escreveu Daco.
Essa volatilidade ficou evidente na sexta-feira, quando o peso mexicano e o dólar canadiano caíram após Trump prometer cumprir as suas ameaças. Os preços das ações nos mercados norte-americanos também caíram e os rendimentos dos títulos do Tesouro subiram. As ações fecharam em baixa na sexta-feira.
No entanto, Trump mencionou uma potencial exclusão para petróleo do Canadá, dizendo que a taxa tarifária seria de 10%. Mas indicou que tarifas mais amplas sobre petróleo e gás natural seriam lançadas em meados de fevereiro, observações que fizeram os preços do petróleo subirem. Com quase 100 mil milhões de dólares em 2023, as importações de petróleo bruto representaram cerca de um quarto de todas as importações dos EUA oriundas do Canadá, de acordo com dados do US Census Bureau, amplamente citados pela imprensa norte-americana.
Trump reconheceu que custos mais altos de uma série de produtos podem ter impacto nos consumidores e que as suas ações podem causar interrupções de curto prazo nos fornecimentos, mas disse também que não está preocupado com os mercados financeiros.
Jake Colvin, presidente do Conselho Nacional de Comércio Exterior, que representa grandes empresas dos Estados Unidos, disse, citado pela agência Reuters, que impor tarifas aos principais parceiros comerciais "poderia impactar o custo e a disponibilidade de tudo, de abacates a condicionadores de ar e automóveis, e corre o risco de desviar o foco de nossos relacionamentos em diálogo construtivo". O setor automóvel será particularmente atingido, dadas as tarifas sobre veículos montados no Canadá e no México. A sua vasta cadeia de fornecimentos, onde os componentes podem cruzar fronteiras várias vezes antes da montagem final, agravará ainda mais os custos.
Este domingo, Trump reconheceu que as novas tarifas impostas ao Canadá, México e China podem causar sofrimento aos norte-americanos. Mas "tudo valerá a pena" porque vai "tornar a América grande de novo", continuou.
A resposta das partes visadas não tardou. O Canadá, a China, o México e a comunidade europeia, enquanto manifestam preocupação com os efeitos das medidas anunciadas pelo inquilino recém-regressado à Casa Branca, admitem "retaliar", com França a defender uma “reposta mordaz” da Europa face às ameaças de novas tarifas aduaneiras. O ministro francês da Indústria, Marc Ferracci, declarou que as negociações comerciais da Europa com Donald Trump “devem assumir uma forma de equilíbrio de poder”.
O Canadá elaborou metas detalhadas para retaliação imediata, incluindo taxas sobre o sumo de laranja da Flórida – numa lista que pode abranger 103 mil milhões de dólares em importações oriundas dos Estados Unidos. Já a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, ameaçou retaliar, mas disse que "espero com calma" pela decisão de Trump. A China tem sido mais cautelosa, mas prometeu defender seus interesses comerciais: um porta-voz da embaixada de Pequim em Washington disse que "não há vencedores numa guerra comercial ou tarifária, que não atende aos interesses de nenhum dos lados nem do mundo".