A NATO vai realizar um dos maiores exercícios das últimas décadas com a presença dos 31 países que compõem a Aliança Atlântica no ano do 75.° aniversário da organização – e que será também o ano da mudança do secretário-geral da organização. Finlândia e muito possivelmente a Suécia são a grande novidade dos exercícios – que têm por finalidade manter em respeito os inimigos da aliança atlântica (leia-se a Rússia), mas também revelar prontidão face a qualquer ameaça que emane do conflito que já leva quase dois anos na Ucrânia.
Apesar de a NATO ter considerado no ano passado que a China é o seu pior inimigo, as manobras não acontecem para intimidar Pequim e demovê-la de qualquer iniciativa militar sobre Taiwan. É que neste particular, a Casa Branca quer contenção, ponderação e diálogo: o pior que podia suceder a Joe Biden neste ano de presidenciais seria ter de suportar mais uma guerra. É que o financiamento já mal chega para os conflitos em curso (Ucrânia e Palestina) e o tema tem sido um dos que mais ‘contamina’ o ambiente político interno.
Os exercícios da NATO inscrevem-se num quadro de ‘confronto controlado’ com a Rússia. A organização tem vindo, desde fevereiro de 2022, a organizar mega-exercícios de dimensões nunca vistas. Em setembro do ano passado, realizou os maiores exercícios desde o início do conflito na Ucrânia.
Segundo a agência noticiosa Europa Press, as manobras, que se chamarão ‘Steadfast Defender’ e cuja data precisa ainda não foi divulgada, é uma simulação de uma guerra contra a Rússia. Mas é também uma forma de a aliança mostrar unidade. Os analistas norte-americanos mais ‘destemidos’ dizem que as manobras são uma forma de ‘intimidar’ a Rússia, mas também o mais que provável candidato republicano às presidenciais de novembro, Donald Trump. Vale a pena recordar que, ao longo do seu primeiro mandato, Trump praticamente ‘bombardeava’ a NATO todos os meses, afirmando que não passava de um capricho que o pós-Guerra Fria tinha tornado obsoleto. Nada que a esquerda europeia não tivesse dito antes repetidamente. Mas o facto de Trump ser à época presidente dos Estados Unidos – o que o transformava numa espécie de comandante operacional da NATO – causou perturbação entre os aliados europeus. Até porque – e aí Trump tinha toda a razão, alavancada nos balanços – o presidente dos Estados Unidos denunciou um endémico sub-financiamento por parte dos europeus, o que na prática colocava os Estados Unidos na posição de pagar a segurança do velho continente.
A situação em grande parte mantém-se, aliás, e só o possível regresso de Donald Trump à Casa Branca (e a continuação da guerra na Ucrânia) ‘acordou’ a União Europeia para a possibilidade de ser necessário o bloco dos 27 investir na sua própria segurança – ou seja, no seu próprio exército.
Há uma cimeira da NATO prevista para julho, em Washington, onde os 31 Estados-membros deverão acordar mais um aumento na despesa na área da defesa. Não se sabe se esse será o lugar certo para haver novidades em termos da mudança do secretário-geral. O atual, o norueguês Jens Stoltenberg, continua muito ativo. Ainda esta terça-feira esteve em Davos, na Suíça, a participar no 54º Fórum Económico Mundial. Aí, disse que, embora a situação no campo de batalha seja "extremamente difícil", com os russos "a pressionarem muitas linhas de frente", "também há motivos para otimismo". E apontou as conquistas da Ucrânia na libertação do território; a abertura de um corredor para exportação de cereais no Mar Negro; e, em geral, a sobrevivência da Ucrânia como nação soberana e independente. O secretário-geral sublinhou ainda que "o apoio à Ucrânia não é caridade; é um investimento na nossa própria segurança". O secretário-geral falou no painel ‘Garantir um mundo seguro’ ao lado de uma série de ministros e ministras das Relações Exteriores: Elina Valtonen (Finlânida), Annalena Baerbock (Alemanha), Yusuf Tuggar (Nigéria), e Faisal bin Farhan Al Saud (Arábia Saudita).
Os nomes apontados para a sucessão de Jens Stoltenberg são os da primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, da ministra dos Negócios Estrangeiros da Letónia, Krisjānis Kariņs e o do anterior primeiro-ministro dos Países Baixos, Mark Rutte, considerado por muitos analistas o mais capaz de ganhar a ‘corrida’.