A sucessão de evidências de que o governo de Israel está a perder sustentação interna continuou esta terça-feira, desta vez com um relatório das forças de defesa do país, as IDF. O relatório – que basicamente diz que os ganhos na guerra em Gaza podem desaparecer sem uma estratégia para o “day after” – surge dois dias depois de críticas lançadas pelo ministro da Defesa, Yoav Galant (que acha que o governo está a promover a aliança entre o Hamas e a Autoridade Palestiniana) e no dia a seguir a novas críticas deixadas pelos serviços secretos do Shin Beth (no mesmo sentido das de Galant).
O chefe militar das IDF Herzi Halevi alertou os líderes políticos de Israel para que os ganhos obtidos ao longo de mais de três meses de combates em Gaza poderem ser desperdiçados devido à falta de um plano para a gestão do pós-guerra e a segurança do enclave, de acordo com o relatório agora divulgado e profusamente citado pela imprensa israelita.
Os comentários de Halevi nas últimas semanas foram reflexo da consternação entre analistas militares e outros em relação à falta de preparação para o chamado "day after" em Gaza, enquanto Israel encerra a fase intensiva da sua campanha militar contra o Hamas. "Estamos a enfrentar a erosão dos ganhos obtidos até agora na guerra porque não foi montada nenhuma estratégia para o dia seguinte", disse Halevi em conversas privadas com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, o ministro Yoav Gallant e outros, segundo as mesmas fontes.
Halevi também alertou para que as IDF "podem precisar de voltar e operar em áreas onde já concluímos os combates", referindo-se ao norte de Gaza. Herzi Halevi afirmou ainda para que a “indecisão política” em relação ao futuro de Gaza “pode prejudicar o progresso da operação militar”. “O futuro governo em Gaza deve crescer a partir da Faixa de Gaza. Gaza será governada por palestinianos. O fim da campanha militar deve estar ancorado na política", disse.
As tentativas do governo de convocar ministros para conversas sobre o “day after” em Gaza – que pressupõe manter o Hamas fora do poder – foram travadas por diversos desentendimentos internos quanto a questão tão prementes como a relação entre Gaza e a Cisjordânia, o cessar-fogo e as negociações para a libertação dos reféns ainda nas mãos do Hamas.
Gallant disse esta segunda-feira que a “fase intensiva” da ofensiva terrestre de Israel no norte de Gaza terminou e em breve também terminará na área de Khan Younis, no sul. Depois disso, não há, pelo menos publicamente, qualquer indicação do que se seguirá. Isso não seria um problema se não se desse o caso de o desconhecimento público se estender ao ‘não-público’: as críticas do comandante das IDF são prova de que falta qualquer coisa na estratégia do gabinete de crise.
De acordo com alguma comunicação social israelita, as chefias militares temem que o Hamas possa reagrupar-se em áreas de Gaza assim que as IDF se retirarem se não houver uma solução política eficaz para preencher o vazio de poder.
Israel tem dito que não reocupará o enclave, mas também sustentou que provavelmente precisará de manter alguma presença de segurança para operações pontuais que sirvam para impedir que o Hamas reconstrua as suas capacidades e as suas infraestruturas.
As IDF já disseram que os combates em Gaza provavelmente durarão por todo o ano de 2024. "Gostaria de reiterar que, no final da guerra, não haverá ameaça militar em Gaza. O Hamas não será capaz de controlar e de funcionar como força militar, e as IDF terão total liberdade de ação para fazerem o que for necessário para defender os cidadãos de Israel", disse Gallant na passada segunda-feira. As próprias IDF parecem ter algumas dúvidas.