A cimeira da NATO, a decorrer em Washington, que serve principalmente para comemorar os 75 anos da aliança e que foi capturada para fins políticos internos, que têm a ver com as presidenciais norte-americanas de novembro, tem tido poucos motivos de interesse e nenhumas novidades. Ou quase. Para já, teve duas: uma infeliz troca de palavras entre o presidente norte-americano, Joe Biden, e o ainda secretário-geral, Jens Stoltenberg, que não se pode reproduzir na imprensa séria; e um inesperado encontro entre responsáveis europeus e Keith Kellogg, conselheiro de política externa de Donald Trump, à margem da própria cimeira.
Keith Kellogg, que foi também conselheiro de segurança nacional do vice-presidente de Trump, o entretanto ‘demonizado’ Mike Pence, encontrou-se com diversos membros das comitivas de países europeus, entre eles vários ministros dos Negócios Estrangeiros, segundo avança a agência Reuters.
Keith Kellogg, um tenente-general reformado, disse à Reuters que reuniu com várias autoridades europeias nos últimos dias, incluindo ministros dos Negócios Estrangeiros – mas não revelou as suas identidades nem tão pouco o que constou da conversa durante esses encontros. Kellogg, que a imprensa afirma estar em contato regular com Trump, enfatizou que não fala pelo ex-presidente nem pela sua campanha. Pelo menos em público.
Num contexto em que as autoridades europeias estão famintas por qualquer informação que possam obter sobre a política externa de Trump, segundo a própria Reuters, diplomatas estrangeiros têm reunido regularmente com autoridades do anterior governo de Trump.
Entre as principais preocupações nas capitais europeias está a forma como Trump lidará com a guerra na Ucrânia e a relação dos Estados Unidos com a NATO. Recorde-se que o ex-presidente e os seus aliados expressaram ceticismo sobre o envio de mais ajuda à Ucrânia, e Trump criticou repetidamente os países da NATO por gastarem muito pouco em defesa. Trump chegou a dizer que acabaria com a guerra em um ou dois dias – supõe-se que secando todas as fontes norte-americanas de financiamento – mas não tem falado sobre o assunto. Não só porque parece difícil dar a entender que Vladimir Putin é assim tão permeável à vontade de Trump, mas também porque a poderosa indústria norte-americana do armamento pode não estar interessada num desenlace tão rápido.
Um desempenho desastroso para as hostes democratas no debate televisivo entre Joe Biden e Donald Trump parece ter tornado tudo mais urgente. Com a média das sondagens a atribuir a vitória a Donald Trump por uma margem de 2,1 pontos percentuais, os governos europeus já se foram habituando à ideia de que terão de voltar a entender-se com Donald Trump. De qualquer modo, uma parte das reservas do ex-presidente face à organização transatlântica está ultrapassada: são já 23, segundo a própria NATO, os países da organização que gastam pelo menos 2% do PIB na defesa e armamento.
Ainda segundo a Reuters, e embora Kellogg não tenha revelado com quem se encontrou, postou uma imagem na rede social X que descreveu como uma "discussão informal" com o presidente do parlamento ucraniano, Ruslan Stefanchuk.
Entretanto, os líderes dos 32 Estados-membros da NATO aceitaram fornecer à Ucrânia um financiamento mínimo de 40 mil milhões de euros (43,28 mil milhões de dólares) em ajuda militar no próximo ano, mas não cumpriram o compromisso plurianual que o secretário-geral Jens Stoltenberg havia proposto. Quanto à entrada da Ucrânia, o mesmo de sempre: sim, mas não para já.
Mas foi fora do recinto do certame da NATO que Joe Biden averbou a mais pesada derrota do dia: num artigo de opinião, George Clooney, seu apoiante de sempre, escreveu: "É devastador dizer isso, mas o Joe Biden com quem estive há três semanas numa angariação de fundos não foi o Joe 'big F-ing deal' Biden de 2010. Nem foi o Joe Biden de 2020. Era o mesmo homem que todos testemunhamos no debate. Não vamos ganhar em novembro com este candidato, não vamos ganhar a Câmara e vamos perder o Senado."