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“Não são só os professores e os polícias”. Bancários em luta contra salários de 900 euros

Seis sindicatos realizaram uma análise ao sector que aponta para a perda de poder de compra dos bancários, bem como para as situações de 'burnout'. Tentam agora junto dos partidos trazer este tema para a praça pública, numa luta por melhores condições de trabalho que dizem não ser apenas dos professores ou dos polícias. 

Os sindicatos bancários querem “juntar-se” à luta dos professores e dos polícias por aumentos salariais, pedindo aos partidos que tragam este tema para a discussão pública. Um apelo que surge depois de terem feito um “raio-x” ao sector que mostrou que os bancários, que ganham hoje 900 euros no início de carreira, têm perdido poder de compra, mas também que estão vulneráveis a situações de burnout devido à elevada carga de trabalho.

“A situação caótica nos últimos anos levou-nos a juntar e a fazer um diagnóstico sobre o sector financeiro”, afirma, ao Jornal Económico, António Fonseca, presidente do Mais Sindicato, que fez esta análise em conjunto com o Sindicato dos Trabalhadores do Setor Financeiro de Portugal (SBN), o Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Banca (SBC), o Sindicato de Trabalhadores das Empresas do grupo Caixa Geral de Depósitos (STEC), o Sindicato Independente da Banca (SIB) e o Sindicato dos Trabalhadores da Atividade Financeira (Sintaf). 

Os sindicatos concluíram que o “sector financeiro é o único em Portugal com evidente quebra do poder de compra”, com uma perda efetiva de 7,3%. António Fonseca refere que a “inflação é sempre superior aos aumentos salariais que conseguimos negociar”, com os bancários a “perderem poder de compra de ano para ano, muito em especial os reformados que não conseguem ter remunerações variáveis por parte dos bancos”.

Para chamar a atenção para estas questões, as entidades sindicais iniciaram vários contactos junto dos partidos políticos, e também do Presidente da República, para que o tema chegue à praça pública. “Sabemos que os deputados têm alguma dificuldade em interferir nesta área porque trabalhamos essencialmente com entidades privadas. Mas penso que podem trazer à discussão esta perspetiva dos bancários. Não são só os professores e os polícias que têm de lutar pelos seus direitos”, nota o presidente do Mais Sindicato, referindo que os bancários já não são hoje a classe privilegiada de há 30 anos, quando os salários eram mais elevados.

“Ficou um estigma de que os bancários eram uma classe privilegiada, e em determinada altura terão sido, mas hoje isso não acontece. Um jovem que entre na banca pode receber 900 euros e ter que entrar com uma licenciatura porque hoje não se entra no sector sem estar licenciado”, sublinha o responsável, afirmando ainda que vão recorrer à conciliação da Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT) na negociação salarial com os bancos.

“Os bancos estão numa posição muito favorável. Nos últimos anos têm tido consecutivamente lucros atrás de lucros. Ficamos contentes que os nossos bancos sejam saudáveis, mas também gostaríamos de ver isso refletido nos trabalhadores”, afirma António Fonseca. 

Na mesma análise ao estado do sector, os sindicatos identificaram ainda outros problemas, nomeadamente a “elevada carga de trabalho, que leva a situações de burnout” entre os 9.000 bancários em Portugal. “Os trabalhadores estão cada vez mais numa lógica multitarefa, decorrente de os clientes poderem interagir com as instituições financeiras por vários canais (agência, telefone, e-mail, app) e a execução de uma variedade de tarefas pode levar a stress, cansaço significativo, erros não voluntários e mesmo a situações de difícil retorno como o burnout”, referem.

Além disso, “a pressão para a realização de trabalho suplementar existe sem os incentivos remuneratórios correspondentes e com intimações de que poderão constar da lista de trabalhadores a dispensar na próxima reestruturação”.

A par disto, “as crises económicas e a reestruturação dos bancos têm conduzido à insegurança no emprego e a um clima de medo no setor”, a que se somam “situações graves de assédio laboral”, juntando-se ainda o facto de as oportunidades de progressão na carreira serem “cada vez mais limitadas, levando à frustração dos trabalhadores”.