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Mulheres estão cada vez mais ativas nas empresas familiares

Quase 50% dos acionistas das empresas familiares são mulheres, o que desde logo lhes confere um lugar de destaque que vai vertendo para as estruturas de comando. Mas não demasiado depressa.

As mulheres estão cada vez mais presentes na gestão das empresas familiares, mas as dificuldades de género ainda se mantêm – não sendo suficiente para a mudança o facto de cerca de 50% dos acionistas deste tipo de empresas serem mulheres. Os tempos mudam, mas mudam devagar e uma empresa de base familiar não é necessariamente o melhor lugar para apressar o processo social. O tema foi debatido num dos painéis do seminário ‘Potenciar o legado – o caminho de crescimento das Empresas Familiares’, organizado no Porto pela consultora KPMG.

Isabel Furtado, CEO de uma empresa familiar, a TMG Automotive – um dos dois braços de negócio do grupo TMG – disse que, “no meu caso, ser mulher num país periférico, na indústria, não podia ser pior”, do ponto de vista da consolidação da sua posição de liderança. “As mulheres são a espinha dorsal da família. A maior parte não estava em gestão ou a formar empresas, porque tinham tarefas familiares. O que não quer dizer que não gerissem: já nasceram gestoras, para que os homens pudessem” comandar as empresas.

Mas ainda há entraves a que a mulher esteja na direção das empresas, afirmou. No caso da TMG, “a família fica na portaria”. Ou então não: “não somos uma empresa típica”; “o meu primo homem trata da moda, e eu trato dos carros”.

Por outro lado, o aumento da esperança de vida e da qualidade do ensino, faz com que, numa mesma empresa familiar, várias gerações progridam em paralelo, com e evidente necessidade de estabelecimento de novos equilíbrios e um diferente balanceamento entre competências e cargos. Luís Parreirão, um dos membros dos diversos painéis do seminário– presente em testemunho do grupo Mota/Engil – chamou a atenção para isso mesmo.

“Atinge-se a maturidade mais cedo, trabalha-se até mais tarde. O que coloca um problema: o do convívio necessário entre gerações dentro das empresas” – por um lado gerações mais velhas que querem ter mais tempo de vida profissional e, por outro, gerações mais novas apetrechadas com conhecimentos mais eficazes. É o equilíbrio entre forças que não têm necessariamente de estar alinhadas, que deve ser uma das preocupações das organizações familiares, disse. Nada disto tem de ser necessariamente mau – e não o é, pelo contrário, disse, precisamente se o alinhamento for conseguido.

Coube a Luís Magalhães e Sandra Aguiar, ambos da KPMG, apresentar o estudo global sobre empresas familiares, que agregou depoimentos de quase 2.700 empresas, das quais 100 portuguesas, num total de 80 países. Em Portugal, as empresas familiares têm uma idade média de 67 anos (42 anos a nível global) – o que tem impacto nas gerações presentes nas organizações e na detenção de participações em capital. Nestas, metade integra múltiplas gerações na gestão, sendo que, em média, 5,57 elementos da família detêm ações do negócio.

Cerca de dois terços das empresas familiares portuguesas são geridas pela segunda e terceira geração da família e 20% já são lideradas pela quarta geração. O inquérito da KPMG conclui que cerca de 78% das empresas familiares portuguesas tem uma comissão de diretores para a gestão do negócio (61% a nível global), o que pressupõe uma partilha de conhecimento e um forte alinhamento em termos estratégicos.

O estudo avaliou a importância do legado familiar – biológico ou geracional (nome da família e linhagem), material (património financeiro, heranças), social (relações com a comunidade), de identidade (história e rituais da empresa) e empreendedor (resiliência para novos desafios). O resultado não será propriamente uma novidade: o balanço de todos estes fatores, disse Sandra Aguiar, resulta numa organização mais resiliente e mais vocacionada para incorporar impactos negativos que as suas congéneres ‘’independentes’.

Assim, segundo o estudo, 45% das empresas familiares a nível global que referiram ter fortes legados históricos, também revelam ter um forte desempenho empresarial e 53% apresentam elevados níveis em termos de sustentabilidade. “Há uma ligação convincente entre a profundidade do legado de uma empresa familiar, o seu desempenho financeiro e a força das suas práticas de sustentabilidade”, referiu Sandra Aguiar.

O empreendedorismo transgeracional é também um fator diferenciador que– exatamente pelo que disse Luís Parreirão – tem uma importância cada vez maior neste tipo de organizações empresariais, sendo uma prova de que o relacionamento estratégico inter-geracional é muito positivo.

Para Luís Magalhães, head of tax da KPMG Portugal, “é claro que o legado da empresa familiar contribui para o empreendedorismo transgeracional, o desempenho financeiro e para práticas de sustentabilidade“, sendo todos elementos distintivos das empresas de base familiar. Das centena de empresas portuguesas que responderam ao estudo, 61% são de grande dimensão, com mais de 250 colaboradores, 28% são de dimensão média e 11% são de pequena dimensão, refere a KPMG – com 73% a trabalharem nos serviços, 22% na agricultura, 3% na indústria e 2% na construção.

O seminário decorreu no Porto e será agora repetido em Lisboa no próximo dia 20 de junho, quinta-feira – desta vez com a presença de Pedro Reis, que estava ‘escalado’ para ir ao Porto mas acabou por não o poder fazer, tendo sido substituído pela secretária de Estado dos Assuntos Fiscais, Cláudia Reis Duarte.