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Miguel Pina e Cunha: “Se queremos reter os nossos jovens precisamos de melhores empresas e empregos”

O professor da NOVA SBE, diretor académico do programa Liderança Social para Gestores, Miguel Pina e Cunha, defende ao JE que a gestão é decisiva para o desenvolvimento futuro do país em todos os sectores de atividade.

Miguel Pina e Cunha, diretor académico do programa Liderança Social para Gestores da NOVA SBE, diz, ao Jornal Económico, que a qualidade da gestão é decisiva para o desenvolvimento futuro do país. Sem dúvida! Em todos os sectores”,  afirma.

“De outra maneira – justifica - desperdiçamos recursos, desde capital a talento humano. Aliás, se queremos reter os nossos jovens precisamos de melhores empresas e empregos.  Esse é um desafio nacional”.

O desafio compreende o sector social, no qual tem vindo a fazer trabalho relevante como professor e investigador. A Iniciativa para a Equidade Social, uma parceria entre a Fundação ”la Caixa”, o banco BPI e a Nova School of Business and Economics deu origem ao programa de formação de executivos Liderança Social para Gestores, que Miguel Pina e Cunha coordena na NOVA SBE, a que se junta agora um livro, com o título de  “Gestão, Liderança e Inovação no Setor da Economia Social”.

Com coordenação partilhada com Rita Diniz, também da NOVA SBE, junta 29 académicos e líderes sociais em torno da boa gestão, e de como pode esta contribuir para a transformação da economia social, e tem chancela das Edições Sílabo. Pretexto para esta conversa:

Em duas linhas, o que é uma boa gestão?

Boa gestão consiste em usar recursos distintos para resolver problemas e responder a necessidades de alguém.  Consiste em alcançar resultados (eficácia), usando recursos de forma adequada (eficiência), com impacto positivo nos humanos e no ambiente natural. Se atualmente todas as empresas lidam com o grande desafio que é angariar recursos, captar e reter talento, no setor da economia social este desafio é exacerbado pela falta dos mesmos recursos: financeiros e humanos.

Pode a boa gestão contribuir para a transformação do sector da economia social? 

As organizações sociais também usam recursos para alcançar finalidades. A sua finalidade não se mede em lucros mas o bom uso de recursos é relevante.

Importa aplicar boas práticas de gestão, rigorosas e atualizadas, quando se gerem recursos financeiros que resultam de donativos ( escassos e limitados) e recursos humanos voluntários ( escassos e limitados).  Acreditamos que mesmo as organizações sociais, que existem desde há décadas mais focadas e motivadas para o cumprimento da missão do que para a implementação de novos modelos de gestão, podem  encontrar tempo para planear a sua sustentabilidade e fazer a sua transformação.

Como?

Levar boas práticas de gestão para as Direções das organizações sociais vai permitir melhorar a utilização dos recursos, satisfazer os stakeholders e desse modo facilitar a captação de mais recursos. A gestão mais eficiente dos recursos captados, por exemplo, permite impactar positivamente em mais beneficiários. Ademais, muitas organizações sociais dependem em parte da boa vontade de voluntários (recursos). Isso exige uma gestão atenta às necessidades e motivações desta força de trabalho movida por um propósito.

Como avalia a qualidade da gestão em Portugal nas suas múltiplas vertentes: pública, privada, empresarial?

Há trabalho internacional, liderado com Bloom e Van Reenen, dois académicos, que sugere que temos amplo espaço para melhorar. Há bons exemplos em todos os sectores, e uma cauda longa de organizações que é maior em Portugal que noutras economias.

Vê melhorias?

As melhorias que possam estar a ocorrer neste momento só serão visíveis a prazo. Como dissemos, há bons exemplos mas falta músculo, dimensão e capital. Seria bom olharmos para pequenos países com extraordinárias empresas, como a Dinamarca, com economias mais livres e Estados menos intervenientes, mas mais capazes na criação de contexto (melhor justiça, menos burocracia).