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‘Merdificação’ da internet? Sim, cortesia das Big Tech

“Enshittification” (’merdificação’, numa tradução livre) é um dos livros mais aguardados, com lançamento previsto para este mês. De que trata? Das dinâmicas usadas pelas plataformas digitais e Big Tech que levam à degradação progressiva dos serviços à medida que crescem e concentram poder.

O Facebook está cheio de conteúdo sem sentido gerado por Inteligência Artificial. O X tornou-se um território de “livres-pensadores”. As pesquisas no Google já sugeriram coisas absurdas, como comer pedras. E a Amazon limita a liberdade dos consumidores. A teoria de que a internet se está a degradar ganha cada vez mais força e deu origem a um livro: “Enshittification”. O termo, criado pelo autor, jornalista e ativista Cory Doctorow, refere-se à deterioração dos serviços (especialmente online) como resultado de empresas gigantescas que extraem o máximo de lucros dos seus clientes.
“Primeiro, são boas para os seus utilizadores; depois, abusam dos seus utilizadores para melhorar as coisas para os seus clientes empresariais; finalmente, abusam desses clientes empresariais para recuperar todo o valor para si próprios. Depois, morrem”, diz Cory Doctorow.
Nas últimas décadas, assistimos a uma transformação profunda na forma como as economias modernas encaram o poder corporativo. A lógica da eficiência e do crescimento foi, pouco a pouco, suplantando a preocupação com a concorrência e o equilíbrio de mercado. “Durante muito tempo, aumentámos o poder disponível para as grandes empresas, reduzindo a nossa aplicação da legislação antitrust, tolerando fusões, preços agressivos, todas as condutas que permitem que as empresas se tornem muito grandes. Isto tem-se verificado de forma generalizada e não apenas no setor tecnológico”, acrescenta Cory Doctorow.
Um exemplo prático deste fenómeno, segundo o autor, encontra-se na legislação sobre gestão de direitos digitais — a Digital Millennium Copyright Act — e nas práticas comerciais de plataformas como a Audible. “Existe uma lei, a Digital Millennium Copyright Act, que torna ilegal a quebra da gestão de direitos digitais. Assim, por exemplo, se a Audible (que pertence à Amazon) vender um dos meus audiolivros, eles exigem que o livro tenha uma gestão de direitos digitais que o prenda à plataforma da Audible para sempre – não é possível desbloqueá-lo, sair da Audible e levar os livros consigo. E se eu lhe der uma ferramenta para desbloquear o audiolivro para que possa ir para outro sítio, cometo um crime punível com uma pena de prisão de cinco anos e uma multa de 500 mil dólares. Assim, embora eu seja o detentor dos direitos dessa obra, a Amazon, o intermediário que lhe vendeu a obra, tem mais direitos de propriedade intelectual sobre essa obra do que eu”, explica o autor.

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