Martilene dos Santos, coordenador dos quadros do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), está “disponível” para concorrer à liderança do partido no próximo congresso da organização, que deverá ser organizado para janeiro ou, o mais tardar, fevereiro de 2022. Em declarações ao Jornal Económico (JE), Martilene dos Santos, que também foi presidente da juventude do partido, afirmou que está “disponível para o que o partido precisar” e revelou que “tem havido manifestações espontâneas de camaradas” para que se decida a concorrer ao lugar – neste momento ocupado por Domingos Simões Pereira (primeiro-ministro entre julho de 2014 e agosto de 2015), mas que, segundo dos Santos, “já disse que não continuará” no comando do PAIGC.
A disponibilidade de Martilene dos Santos surge numa altura em que a Guiné-Bissau esta afundada numa crise política para a qual ninguém vê qualquer solução. Na semana passada, o presidente do país, Umaro Sissoco Embaló, convocou o Conselho de Estado para avaliar da possibilidade de dissolver o parlamento (a Assembleia Nacional Popular) e convocar novas eleições que possibilitem a substituição do governo do primeiro-ministro Nuno Nabiam (do partido Assembleia do Povo Unido - Partido Democrático da Guiné-Bissau, APU-PDGB, que governa com o apoio do Partido da Renovação Social (PRS), apesar de já ter tido um pacto com o PAIGC).
Antes mesmo dessa reunião do Conselho de Estado, Martilene dos Santos disse ao JE “não acreditar” que o presidente se decidisse por uma solução tão radical quanto a demissão do governo, mas apenas por uma espécie de ‘puxão de orelhas’ ao executivo. Foi mesmo isso que acabou por suceder – mas o Conselho de Estado marcou uma rutura definitiva entre as duas principais figuras da Guiné-Bissau: apesar de, por inerência, Nuno Nabiam integrar o Conselho de Estado, o primeiro-ministro preferiu não comparecer à convocação do presidente, dando mostras de que não há qualquer hipótese de reconciliação.
Depois de um período de entendimento entre ambos, as relações tornaram-se tensas quando, no final de outubro passado, o governo decidiu reter um avião que, presumivelmente a mando do presidente, transportava “carga suspeita”. Embaló reconheceu que o avião aterrou sob as suas ordens, mas o primeiro-ministro pediu apoio à comunidade internacional para investigar “as circunstâncias suspeitas” envolvendo o Airbus A340, no sentido de, como disse em comunicado, “estancar” o tráfico de armas e drogas, que ”é um objetivo de altíssima prioridade para o governo”. “Todos queremos um esclarecimento total desta questão, queremos sair disso de cabeça erguida, dignificar o estado perante uma situação que abala todo o país”, afirmou Nuno Nabiam na semana passada, citado por vários jornais locais.
Martilene dos Santos está “disponível” para assumir liderança do PAIGC
Alto quadro do mais antigo partido guineense quer dar uma resposta política à profunda crise institucional e económica que o país vive. Entre outros motivos, para afastar o fantasma sempre presente de mais um golpe de Estado.
