É a primeira manifestação da estratégia de alianças que o chamado Sul Global tem em vista para se constituir como uma força alternativa para o crescimento económico e também para ‘livrar-se’ do jugo das economias ocidentais – que tende a ter uma visão instrumental dos países emergentes do hemisfério Sul.
A visita do presidente do Brasil, Inácio Lula da Silva, a Angola – onde foi recebido com os mais elevados padrões protocolares pelo seu homólogo João Loureço – foi, nas suas palavras, “o regresso do Brasil a África”, desta vez sob um ponto de vista ‘win win’ que promete inaugurar uma nova fase das relações entre as duas nações.
De mais ‘palpável’, a agenda ficou marcada pela assinatura de sete acordos de largo espectro que pretendem ser um desafio de alinhamento dos dois países nos sectores mais importantes das suas economias. São eles: um acordo sobre o exercício de atividades remuneradas por dependentes de diplomatas e militares que prestam serviços nos países; memorando de entendimento para cooperação no sector do turismo sustentável; projeto de cooperação entre os ministérios da Saúde para diagnóstico e tratamento da hanseníase; memorando de entendimento sobre cooperação agrícola entre os ministérios da Agricultura; projeto de cooperação ‘Escola de Todos’, para o estabelecimento da terceira fase do programa; memorando sobre apoio a micro e pequenas empresas; e um memorando sobre promoção da exportação entre as agências do sector dos dois países.
Importante foi também o facto de o Brasil, que lidera neste momento o G20, ter convidado Angola a estar presente na próxima reunião do grupo. Para os analistas, é uma questão importante – e, dizem, vale a pena estar atento para se perceber até que ponto é que a estratégia dos BRICS, que realizaram a sua 15ª cimeira na África do Sul dias antes de Lula da Silva viajar para Angola, vai ter capacidade de ‘contaminar’ a agenda do G20. Sendo até agora o G20 uma espécie de segunda divisão abaixo do G7, algumas das economias ali presentes podem estar em rota de convergência com os BRISC que não é necessariamente coincidente com a do G20.
O presidente brasileiro disse que as relações entre Angola e o Brasil são “uma política de Estado” e lamentou o “abandono” de África pelo anterior governo de Jair Bolsonaro. Lula da Silva frisou que esta é a primeira visita de Estado que faz a um país africano neste mandato e que a mesma simboliza o “retorno do Brasil a África”, segundo citam as agências internacionais.
“Começamos por um país que sempre foi a maior ponte para este continente-irmão. Nos últimos anos, lamentavelmente, o Brasil tratou os países africanos com indiferença, pela primeira vez que tivemos um presidente da República que não fez nenhuma visita a África, embaixadas foram fechadas no continente a e cooperação foi abandonada”, salientou.
“O Brasil quer apoiar Angola no esforço de diversificar a sua economia, o nosso comércio é dos mais amplos e diversos”, assegurou o presidente brasileiro. Lula da Silva sublinhou também que o intercâmbio bilateral do seu país “caiu drasticamente a partir de 2015, mas só no primeiro semestre desse ano já cresceu quase 65% em comparação com o mesmo período do ano passado”.
A cooperação bilateral com Angola, firmada numa parceria estratégica assinada em 2010, levou Lula da Silva a salientar que há uma história de “solidariedade e cooperação de ambos países, que aponta para um futuro compartilhado”. “Continuaremos a trabalhar juntos, unidos pelo vasto Atlântico Sul.
De Angola, Lula da Silva rumou para São Tomé e Príncipe para estar presente na XIV Cimeira da CPLP, que decorre sob o tema 'Juventude e Sustentabilidade' e marca a passagem de testemunho de Angola a São Tomé. "Depois de um interregno em que isso não se tinha verificado, vamos ter o presidente Lula da Silva a participar nesta cimeira, o que é bem um sinal da importância da CPLP hoje à escala global”, disse à agência Lusa o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação português, Francisco André.
“O que esperamos é uma participação efetiva do Brasil e essa resposta já está dada de forma positiva, [com] o sinal mais claro que temos para o futuro que é a presença do presidente Lula da Silva ” em São Tomé e Príncipe, salientou o governante português. Na prática, vários analistas, consideram que a CPLP é, do ponto de vista diplomático, uma 'inexistência'.