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Luís Tavares Bravo: "Regressão do projeto europeu é risco percecionado pelos investidores"

Os resultados das últimas Europeias colocaram o “Velho Continente” em sentido com o fim do acordo político a poder trazer sérios problemas à divida soberana e à moeda única. Em entrevista ao JE, Luís Tavares Bravo, economista e e board member do Think Tank International Affairs Network, alerta para um possível efeito dominó caso a situação em França piore.

Como é que vê esta ameaça a Alemanha e França, este eixo tão importante para aquilo que é a resolução de uma série de assuntos absolutamente fundamentais para o Velho Continente?

O que tivemos foi um resultado que comprou tempo ao centro político e reforçou a posição de Ursula von der Leyen. Temos cinco anos para que a Europa possa de facto fazer qualquer coisa, portanto não há poder suficiente entre aquilo que são as forças tradicionais: os socialistas europeus, o Partido Popular Europeu e mesmo os liberais, que têm sido os três principais partidos que têm conseguido executar uma agenda de reformista. Portanto, tudo o que é ligado à transição digital, à parte das agendas transnacionais, tem poder para poder continuar ainda durante algum tempo. O grande problema e a questão que se levanta é que, a nível nacional, Alemanha e a França tiveram bastantes problemas e Macron, que é um dos líderes da Europa, tem tomado muitas iniciativas na parte até de índole militar e daquilo que é geopolítica europeia. Mas teve um péssimo resultado e marcou eleições antecipadas. Na Alemanha não haverá eleições antecipadas mas Olaf Scholz também teve um resultado terrível e houve um crescimento muito forte da AfD.

Como ficam os compromissos com o pacto de estabilidade na Europa?

São agendas nacionais. Marine Le Pen disse várias vezes que estaria pouco disponível para aumentar o compromisso da França na Europa, que o compromisso era sobretudo com os franceses e na resolução dos problemas da imigração. Pelo contrário, está menos disponível para coisas que são importantes, como por exemplo acabar a União Bancária, mercado de capitais único, e isso tem sido visível nos mercados financeiros com os prémios de risco das dívidas soberanas, sobretudo na França, um bocadinho mais elevados. Pode haver alguma flexibilização das metas e pode haver enfoque maior relativamente à defesa nacional e a mais controlo político industrial. Mas nestes cinco anos, alguma coisa também deve acontecer em termos de coesão social e de criar uma identidade europeia, até porque a Europa tem problemas que não tinha há muitos anos, como uma nova cortina de ferro. Portanto, há aqui uma série de desafios sobre se ficamos com a NATO, sobre se a Europa tem uma política de defesa própria, etc.

Podemos falar de um efeito dominó?

França é vista como um país farol em termos daquilo que são a aplicação das políticas mais importantes da União Europeia. Se a França começa a falhar, podemos falar de um possível efeito dominó relativamente àquilo que é o desrespeito por algumas regras europeias que têm sido mantidas.

Quem vai protagonizar uma espécie de sequela do "Whatever It Takes" de Mario Draghi perante este cenário?

Essa é a pergunta de 100 milhões. Se calhar teria de se resgatar alguém da reforma política como Angela Merkel, que era uma europeísta convicta e tem poder para o fazer. Será a senhora Ursula von der Leyen que terá que ser reforçada nas eleições. Provavelmente a Europa terá que acordar para isto e fazer uma espécie de plano Marshall para a coesão e para aumentar a identidade da Europa que bem precisa porque também tem um conflito militar pela frente, geopolítico pelo menos, na Ucrânia, algo que também precisa de ter uma resposta europeia.