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Lucro da EDP dispara 75% para recorde de 762 milhões de euros, puxado pelas renováveis e vendas de ativos

"Foi um semestre muito forte", afirmou o presidente-executivo da EDP, Miguel Stilwell d'Andrade, que reafirmou o objetivo de fechar o ano com um lucro em torno dos 1,3 mil milhões de euros.

Os resultados líquidos da EDP – Energias de Portugal subiram 75% no primeiro semestre deste ano, face a igual período de 2023, para 762 milhões de euros, apoiados no bom desempenho das energias renováveis e na rotação de ativos nos mercados internacionais.

No comunicado divulgado através da através da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, esta terça-feira, 30 de julho, a empresa realça os “ganhos com rotação de ativos de transmissão de eletricidade no Brasil e ativos de produção de energia eólica e solar em Itália, EUA e Canadá".

O resultado líquido recorrente aumentou 50%, para 775 milhões de euros e, excluindo ganhos de rotação de ativos, a empresa refere que o resultado líquido recorrente aumentou 15%, para 591 milhões de euros.

"Foi um semestre muito forte", afirmou o presidente-executivo da EDP, Miguel Stilwell d'Andrade, na conferência telefónica com analistas a seguir à apresentação dos resultados.

“É um bom crescimento, mesmo sem rotação de ativos", acrescentou.

No primeiro trimestre, o lucro da empresa de energia subiu 17%, para 354 milhões de euros.

A rotação de ativos atingiu 1,7 mil milhões de euros e, aos analistas, Miguel Stilwell explicou que a maioria dos ganhos já foram registados nos primeiros seis meses do ano, ainda que estejam previstas operações para o segundo semestre.

"O aumento de 20% da produção de energias renováveis, sobretudo energia hidroelétrica em Portugal (+69%) e eólica e solar nos EUA (+13%) compensou a queda de preços grossistas de eletricidade na Europa e a forte redução da produção de eletricidade com base em combustíveis fosseis, com as energias renováveis a representarem 98% da produção total de eletricidade" no período em análise, explica a empresa.

A EDP assinala que os recursos hídricos se situaram 40% acima da média, nos primeiros seis meses do ano, “impulsionando um aumento notável na geração hidroelétrica”, de 2,7 TWh acima do esperado.

Os reservatórios encontram-se a cerca de 75%, 10 pontos percentuais acima da média histórica, deixando a empresa confiante para o segundo semestre.

"Adicionalmente, registou-se um aumento do contributo do negócio de redes de eletricidade regulada, impulsionado pela aquisição dos minoritários da EDP Brasil concluída em agosto de 2023, mitigando o impacto da desconsolidação dos ativos térmicos", acrescenta.

Os resultados antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (EBITDA) aumentaram 10%, para 2,69 mil milhões de euros, enquanto tendo em conta as operações recorrentes a subida foi de 8%, para 2,67 mil milhões de euros.

A empresa explica a evolução com ganhos com rotação de ativos de 243 milhões de euros nos primeiros seis meses do ano.

"A atividade integrada de produção e comercialização beneficiou do aumento da produção hídrica na Iberia e redução do custo de abastecimento de energia que compensou a redução do contributo da atividade de produção térmica na Ibéria e no Brasil, no seguimento de venda de participações nas centrais de Pecém e Aboño e redução da atividade das centrais de gás na Ibéria. A produção eólica e solar aumentou 5% e o preço médio de venda manteve-se estável, beneficiando de subida de preços nos EUA e com a queda de preços na Europa parcialmente compensado por estratégias de cobertura", refere.

A empresa assinala que o peso da produção de energia renovável cresceu 11 pontos percentuais, para 98%, e que está no caminho para deixar de usar carvão em 2025 e de ser neutra em emissões em 2040.

“Isto mostra como fizemos uma transição energética de sucesso”, reclama Stilwell.

"Nas redes de eletricidade, a distribuição no Brasil foi positivamente impactada pelo aumento de consumo de 9%, enquanto na distribuição em Portugal a subida de proveitos regulados reflete a indexação à inflação", acrescenta.

A dívida líquida aumentou em 2,1 mil milhões de euros, para 17,4 mil milhões de euros, mas a empresa assinala que seria de 17,1 se uma das operações de rotação de ativos tivesse sido registada em junho e não edrrapado no tempo, assegurando Stilwell que o objetivo é de chegar ao fim do ano com este valor abaixo dos 17 mil milhões.

Com estes resultados, a EDP diz que espera atingir em 2024 um EBITDA recorrente de cerca de 5.000 milhões de euros e um resultado líquido recorrente de aproximadamente 1,3 mil milhões de euros, "em linha com os objetivos financeiros apresentados em maio".

“Estamos confiantes quanto ao resto do ano”, assevera Miguel Stilwell.

Baixa tensão em dúvida

Na conferência telefónica com os analistas, o presidente-executivo da EDP admitiu que a empresa pode não participar no concurso para a gestão de redes elétricas de baixa tensão, que deverá ser lançado no próximo ano, mas que, se for essa a decisão, quererá ser ressarcida dos investimentos feitos.

Os municípios detêm as concessões da distribuição de energia elétrica em baixa tensão, atribuída à E-Redes, a antiga EDP Distribuição, por um período de 20 anos, que termina em momentos diferentes, mas a maioria dos contratos chegou ao fim entre 2021 e 2022.

“No pior cenário, teremos os cerca de 1,2 a 1,3 mil milhões [de euros] de volta, se não participarmos no concurso, ou se não formos bem-sucedidos no concurso”, afirmou Miguel Stilwell d’Andrade, numa conferência com analistas depois da apresentação dos resultados semestrais da empresa.

Miguel Stilwell diz que o outro cenário, “a melhor das hipóteses”, é que existirá um “processo racional”, que “faça sentido” para EDP, no qual a empresa participe e ganhe, continuando a gerir as concessões.

A empresa aguarda, agora, os resultados do trabalho da comissão criada pelo Governo para analisar o tema e que pode tanto confirmar como mudar alguns dos parâmetros para o concurso definidos pelo anterior governo.

O CEO da EDP foi também questionado sobre o racional do novo modelo de tarifa social para a eletricidade, que foi alterado ainda pelo anterior governo, depois de críticas de Bruxelas, tendo sido chamados os comercializadores de eletricidade a partilhar de um esforço que era só feito pelos produtores.

O atual governo pretende alterar o modelo, para que o custo seja suportado pelo Orçamento do Estado. “Pode fazer sentido”, diz Miguel Stilwell. “Se o governo quer mudá-lo, na direção que lemos na imprensa, pode fazer sentido”, considerou.

“O que não funcionava era o modelo anterior, em que [o custo] estava de forma desproporcional alocado à EDP”, acrescentou.

O presidente-executivo da EDP foi, ainda, questionado sobre a intenção do Governo de reduzir a taxa de IRC, o que terá impacto nos resultados, mas lembrou que se trata de uma taxa nominal e que a empresa também paga derrama municipal.

“Temos uma das mais altas taxas na OCDE. Se Portugal quer ser competitivo tem de o ser também nos impostos, para captar mais investimento”, afirmou.