Os líderes de três dos mais relevantes bancos centrais a nível mundial reuniram-se em Sintra para debater o estado atual da política monetária. Apesar de estarem em momentos diferentes do ciclo de aperto monetário, o modo "falcão" dominou o debate no Fórum anual do Banco Central Europeu (BCE).
A presidente do BCE afastou a possibilidade de haver uma pausa nas subidas das taxas de juros no curto prazo. “Não estamos a pensar nisso neste momento”. Rec0rdando o percurso de descida da inflação que atingiu um máximo de 10,3% na zona euro, mas que já recuou para 6,1%, garantiu que a instituição está atenta ao desenvolvimento tanto da inflação principal como da subjacente (sem energia e alimentação)
Lagarde destacou que os preços na zona euro estão a “estabilizar” e que o objetivo continua a ser regressar à meta de inflação de 2%.
“Já fizemos muita estrada. Aumentámos as nossas taxas em 400 pontos base em mais de um ano e ainda temos caminho a fazer. Sabemos que iremos subir novamente em julho”, afirmou no encontro com outros banqueiros centrais.
Questionada sobre uma subida em setembro, Christine Lagarde disse que a decisão só será tomada depois de analisados os dados mais recentes: “estamos dependentes de dados, é preciso decidir reunião-a-reunião. Em setembro, iremos receber muitos dados, iremos ter muita coisa nas nossas mãos”.
Já Jerome Powell garantiu que a Reserva Federal não tomou qualquer decisão em relação à reunião de julho, apesar de ser expectável haver mais subidas de juros nos EUA, face a uma inflação que tem surpreendido, nas suas palavras, pela persistência.
Em Sintra, o presidente da Fed voltou a reconhecer que a inflação permanece elevada, apesar da evolução recente que viu o indicador de preços cair de um pico de 9,1% para 4,0% na leitura mais recente. Ainda assim, não há decisão tomada quanto à reunião de julho.
“A única coisa que decidimos foi não subir taxas em junho, não decidimos nada sobre julho”, afirmou Powell, voltando a esquivar-se a classificar a não-subida de junho como uma “pausa”. Perante a agressiva subida de juros na segunda metade do ano passado, a ideia passa agora por “tomar decisões com um pouco mais de tempo entre elas”, de forma a avaliar os efeitos do aperto monetário.
“Estamos a abrandar o ritmo das subidas e é apropriado fazê-lo, até porque quanto mais a informação recebemos, melhor agimos. Os riscos de não fazer nada ou fazer demais tornam-se pouco equilibrados”, acrescentou o presidente da Fed, garantindo ainda que as expectativas do mercado não influenciam minimamente a tomada de decisão da autoridade monetária.
A componente dos bens tem dado sinais claros de desinflação, mas do lado dos serviços esta tendência ainda não é observável. Em particular, os sectores mais afetados pela pandemia e com maior intensidade do trabalho, como “serviços de hotelaria, turismo, alimentação, saúde e financeiros”, detalhou Powell.
A componente laboral tem sido precisamente uma das preocupações da Fed, com o emprego a tornar-se o principal motor da pressão nos preços. Powell fala em “pressões salariais”, com os “inquéritos aos trabalhadores e às empresas a sugerirem que o mercado não é tão rígido como há um ano”, mas com aumentos salariais que sustentam a procura interna.
“A política não tem sido restritiva o suficiente durante tempo suficiente”, o que acresce ao facto de os sectores com maior pressão salarial “não serem os mais sensíveis a subidas dos juros”, contribuindo para uma persistência da inflação que tem surpreendido a Fed.
Por sua vez, o governador do Banco de Inglaterra (BoE) garantiu que está preparado para continuar a aumentar os juros. “A economia do Reino Unido tem sido resiliente. Temos uma taxa de desemprego de 3,8%, historicamente baixa. Quando olhamos para os dados, a inflação dá mostra de sinais de persistência. Vamos guiar-nos pelos dados. Temos um trabalho a fazer. O nosso trabalho é fazer a inflação regressar à sua meta. Faremos o que for necessário. Será pior se a inflação não regressar à sua meta”, afirmou Andrew Bailey.