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João Noronha Lopes: "Benfica vive em contradição: gera receitas e mesmo assim vê o passivo aumentar"

O candidato às eleições presidenciais no próximo dia 25 de outubro diz em entrevista ao JE, que a prioridade tem de ser devolver equilíbrio às contas, reduzir a dependência de receitas variáveis, e estabilizar o modelo de gestão. Sobre a centralização dos direitos televisivos, assume que o clube "tem de liderar o processo, mas não pode ser refém dele".

Que questões da gestão do SL Benfica considera serem mais prementes resolver atualmente?

O Benfica vive uma contradição evidente: é um clube que gera receitas recorde, mas que, mesmo assim, vê o seu passivo aumentar e os capitais próprios diminuir.

Isto significa que há um problema estrutural na forma como o Clube está a ser gerido: falta de controlo de custos, ausência de planeamento financeiro e decisões tomadas sem visão de médio prazo.

Nos últimos anos, o Benfica teve os maiores encaixes da sua história com as vendas de jogadores e os prémios da Liga dos Campeões (por via do aumento dos prémios e de mudanças na forma de distribuição feita pela UEFA), mas o passivo aumentou em cerca de 100 milhões de euros. Isso não é normal nem sustentável.

A prioridade tem de ser devolver equilíbrio às contas, reduzir a dependência de receitas variáveis, como vendas e prémios europeus, e estabilizar o modelo de gestão, profissionalizando as áreas críticas. O Benfica precisa de uma estrutura financeira moderna, transparente e com reporting regular aos sócios.

Temos de garantir que cada euro gasto é um investimento e não um custo. E isso faz-se com rigor, com uma estrutura executiva profissionalizada e com um Conselho Fiscal verdadeiramente independente. O Clube constrói-se com o aumento de receitas.

Que política desportiva deve ser adotada no SL Benfica para que ganhe mais vezes?

O Benfica tem de deixar de viver refém do curto prazo. O que vimos nos últimos anos é um ciclo constante de improviso, mudanças de treinadores, contratações em massa, projetos que começam e acabam ao sabor de um resultado. Ganhar mais que os nossos adversários juntos exige método, estabilidade e um modelo de futebol coerente.

A nossa visão é clara: um Benfica com uma estrutura desportiva integrada, onde a formação é o alicerce, mas é complementada com scouting moderno e contratações cirúrgicas.

Queremos um modelo técnico e de jogo próprio, que identifique o Benfica por aquilo que faz em campo, e não apenas pela camisola. Além disso, o Benfica tem de investir melhor e com inteligência. Não é apenas um tema de gastar menos, mas sim de gastar bem.

E isso significa recrutar perfis adequados, ter critérios de rendimento e valor futuro, e reduzir o desperdício em contratações que não acrescentam qualidade desportiva nem valor de mercado.

O Benfica precisa de estabilidade técnica e visão tática. Tem de voltar a ser um clube que planeia a época em março, não em agosto. A vitória nasce na preparação e é isso que falta ao Benfica atual.

Que competências tem e que considera faltarem nos outros candidatos?

Trago para esta candidatura experiência real de gestão, visão estratégica e uma equipa de executivos competentes em finanças, gestão desportiva, inovação e governação corporativa.

Mas, acima de tudo, trago independência e uma vontade genuína de servir o Benfica, e não de me servir do Benfica.

Nos últimos anos, o clube foi gerido de forma reativa, sem responsabilização nem método.

O que nos distingue é a capacidade de transformar princípios em planos concretos:

- um plano financeiro para estabilizar as contas;

- um plano desportivo de longo prazo, sustentado e mensurável;

- e um plano institucional para devolver ao Benfica influência e prestígio no futebol português e europeu.

O Benfica precisa de liderança e coragem para mudar a forma de governar. Não basta ser um “homem do futebol”, é preciso ser um líder capaz de unir, decidir e planear.

Tenho uma equipa que já trabalhou em grandes organizações e que está preparada para governar o Clube com profissionalismo e transparência desde o primeiro dia.

Que papel vai ter o SL Benfica liderado por si na questão da centralização dos direitos televisivos?

O Benfica, como maior clube português e um dos maiores da Europa, tem de liderar o processo, mas não pode ser refém dele. A minha posição é clara: a centralização só faz sentido se valorizar o todo, mas reconhecendo quem cria mais valor.

Não podemos permitir que o Benfica, que representa mais de metade da audiência televisiva do futebol nacional, seja colocado no mesmo patamar de quem pouco contribui para o produto.