A América Latina é um sub-continente onde por razões não totalmente esclarecidas o mimetismo político ataca as sociedades de forma particularmente inusitada. Foram primeiramente os caudilhos – homens com jeito para os negócios que nunca entenderam por que carga de água alguém se lembrou de proibir a escravatura e consideravam o direito de pernada um saboroso efeito colateral do caráter divido da propriedade privada. Depois foram os ditadores militares – seres vivos que tinham uma relação conflituosa com a língua materna, uma tremenda propensão para entenderem o assassínio como um dever de estabilidade e uma terrível tendência para o uso de bigode. Mais tarde foram os líderes revolucionários de extrema-esquerda, que rapidamente resvalavam para o ditatorialismo como modo de vida, tinham assinalável propensão para as máximas históricas e preferiam as barbas. E finalmente os extremistas de direita, novamente fracunchos no emprego da palavra principalmente quando improvisada, pouco entusiastas pelas liberdades pessoais, cheios de incertezas quanto às prodigalidades científicas das vacinas e pouco convencidos de que o planeta Terra não tem de facto a forma de uma piza.