Após vários anos de política monetária ultra-acomodatícia e taxas diretoras negativas, o Banco do Japão deve subir os juros esta terça-feira, dados os ganhos salariais acima da média esperados para este ano. a visão tem reunido cada vez mais consenso entre os analistas, embora haja ainda quem aposte numa subida mais para a frente em 2024.
A inflação levou a generalidade dos bancos centrais a subir taxas de forma recorde, mas há um que claramente destoa: o Banco do Japão (BoJ). A economia mais endividada do mundo vive há anos uma política ultra-acomodatícia que deve chegar ao fim esta terça-feira, ou assim antecipam os mercados, quando se espera que o banco central nipónico suba taxas pela primeira vez em 17 anos.
O mercado vinha projetando o fim dos juros diretores negativos na economia japonesa para este ano, mas mais para a frente, a partir do segundo trimestre. Com a esmagadora maioria dos bancos centrais ocidentais em claro terreno restritivo, a expectativa era que o BoJ finalmente deixasse de estar em contraciclo, pressionado pela tendência dos seus homólogos, mas as apostas dos investidores numa subida ainda mais cedo adensaram-se nas últimas semanas.
Um dos principais motivos para o ajuste de perspetivas têm sido os comentários do governador do banco central, Kazuo Ueda, sobre ganhos mais expressivos do que se esperava resultantes das negociações salariais no arranque do ano. O BoJ vinha há alguns meses apontando para esta dinâmica salarial como o principal determinante para a decisão de subir taxas e o principal sindicato japonês já sinalizou que os trabalhadores podem esperar os maiores aumentos salariais das últimas três décadas.
Estes ganhos salariais devem chegar, em média, a 5,82% nas maiores empresas do país, o que irá ditar a tendência para o resto do mercado laboral. O Rengo, maior sindicato do país, fala em crescimentos de 3,7% no salário base de todos os seus membros, ajudando o país a evitar as pressões deflacionistas que há vários anos afetam a sua economia.
Apesar do disparo da inflação na generalidade dos países mais ricos, o indicador registou um pico de 3,5% no Japão, tendo, entretanto, recuado já para 2,2% em janeiro.
Cada vez mais investidores e departamentos de análise financeira apontam assim para uma subida já esta terça-feira, embora haja também quem relembre que abril trará uma leva de dados importantes sobre a confiança dos agentes. O Goldman Sachs foi dos últimos bancos a ajustar expectativas apontando para uma subida já em março, citando precisamente a dinâmica esperada no mercado laboral.
Por outro lado, há também a expectativa de mexidas na curva de rendimentos do banco central, outro dos seus instrumentos de política monetária. O BoJ deve também abandonar o alvo para as bonds de 10 anos do governo nacional quando optar por subir taxas, havendo mesmo relatos de que o banco irá deixar de vez a política de controlo da curva de rendimentos, sobretudo após ter ficado concluída a revisão do seu enquadramento operacional.
Em alternativa, o banco central deve apresentar um novo modelo quantitativo que sinalize antecipadamente os montantes de títulos que irá adquirir no futuro.