O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, aproveitou a visita a Washington do ministro israelita da Defesa, Yoav Gallant, para pressionar sobre a necessidade de Israel desenvolver rapidamente um plano robusto, credível e exequível para o pós-guerra e para a necessidade de Israel garantir que as tensões com o Hezbollah na fronteira norte de Israel não aumentem ainda mais. Blinken “atualizou o ministro Gallant sobre os esforços diplomáticos em andamento para promover a segurança, a governação e a reconstrução em Gaza no período pós-conflito e enfatizou a importância desse trabalho para a segurança de Israel", dizia um comunicado do Departamento de Estado após a reunião.
Mas o diálogo seguiu por caminhos inesperados. Segundo a imprensa norte-americana, Gallant terá sugerido que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu é um impedimento a que os planos norte-americanos possam vir a ser executados. Foi o suficiente para a abertura de mais uma frente na profunda crise política que assola o executivo israelita.
O líder do partido Unidade Nacional, Benny Gantz – que há poucas semanas se demitiu do gabinete de crise, precipitando o seu fim – disse, segundo a imprensa israelita, apoiar as críticas de Gallant a Netanyahu, argumentando que este último está "a prejudicar a relação estratégica com os Estados Unidos".
Em comentários que pareciam ter como alvo a acusação de Netanyahu de que Washington tem atrasado o envio de armas, Gallant disse que "em cada família - e consideramos o povo americano nossa família - podem surgir divergências. No entanto, como todas as famílias, discutimos as divergências internamente e permanecemos unidos." Neste contexto, Gantz emitiu um comunicado a afirmar que "o ministro Gallant está certo – nos últimos meses, resolvemos muitos dos problemas com os nossos amigos a portas fechadas, inclusive na questão das munições. Foi o que fiz na minha viagem a Washington em março, e é isso que o ministro da Defesa está a fazer agora". E continua: “o atrito desnecessário que o primeiro-ministro está a criar por razões políticas pode dar-lhe alguns pontos na sua base política, mas prejudica a relação estratégica com os Estados Unidos, que é parte integrante de nossa capacidade de vencer a guerra."
De forma ‘não-oficial’, Netanyahu rebateu o ministro da Defesa: vários meios de comunicação hebraicos citam fontes próximas de Netanyahu, que argumentam que "quando as divergências não são resolvidas em privado, o primeiro-ministro de Israel precisa de falar abertamente para fazer chegar aos combatentes aquilo que eles precisam". Ou seja, Netanyahu terá usado a imprensa para, queixando-se em público, pressionar os Estados Unidos a ‘suspender a suspensão’ de envio de armas e munições para Israel. Seja como for, conseguiu.
Entretanto, Benjamin Netanyahu visitou esta quarta-feira a fronteira com o Líbano para observar um exercício militar e afirmar que Israel também alcançará uma vitória nesta frente, se a guerra eclodir com o Hezbollah. A visita, que contou com a presença do secretário militar de Netanyahu, Roman Gofman, e do chefe do Comando Norte das Forlas de Defesa de Israel (IDF), major-general Ori Gordin, sublinha a forte possibilidade de Israel estar prestes a entrar em regime de guerra aberta com o Líbano, eventualmente repetindo uma invasão que mereceu a discórdia de quase toda a a comunidade internacional.
A iminência da guerra é sublinha por palavras do mais moderado presidente de Israel, Isaac Herzog, que acaba de concluir uma estadia de dois dias no norte de Israel, onde teve a oportunidade de acusar a comunidade internacional de não fazer o suficiente para domar as iniciativas do Hezbollah. "A comunidade internacional não deve surpreender-se se a situação sair do controlo, porque a comunidade internacional mal levanta um dedo, quase não faz nada para contribuir para a plena segurança dos residentes israelitas, após repetidas violações de tratados e acordos internacionais do Líbano e do Hezbollah", disse, citado em comunicado do seu gabinete.