O gabinete do presidente francês emitiu um comunicado que dá nota de que Emmanuel Macron expressou, em telefonema com o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu, a sua firme oposição a uma possível ofensiva militar das Forças de Defesa de Israel (FDI) à cidade Rafah, no sul de Gaza. "Isso só poder levar a uma catástrofe humanitária de magnitude e ao deslocamento forçado de populações, o que constituiria uma violação dos direitos humanos internacionais e traria risco adicional de escalada regional", diz o texto.
A França coloca-se assim na linha da frente da contestação à estratégia militar delineada pelo governo de crise e pelos militares contra o grupo palestiniano Hamas. Os Estados Unidos já haviam esboçado algumas reservas sobre o assunto, mas mais tarde vieram atenuar as declarações da Casa Branca.
Entretanto, e sem que o assunto de Rafah possa desligar-se deste outro, o gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse em comunicado que não foi possível nenhum avanço nas negociações para um cessar-fogo mantidas na capital do Egipto, o Cairo.
"No Cairo, Israel não recebeu nenhuma nova proposta do Hamas para a libertação dos nossos reféns", diz comunicado, acrescentando que o primeiro-ministro "insiste que Israel não se submeterá às solicitações delirantes do Hamas". "Uma mudança nas posições do Hamas permitirá o progresso nas negociações", diz ainda o texto.
Os jornais hebraicos indicam que Netanyahu se recusou a enviar uma delegação ao Cairo na manhã desta quarta-feira, argumentando que não há sentido em fazê-lo até que o Hamas recue das suas exigências em relação à libertação de um grande número de prisioneiros palestinianos. Um cessar-fogo também não é propriamente um cenário que agrade ao gabinete – nomeadamente entre o lado mais extremista e religioso, que prefere uma solução mais ‘permanente’ para a questão do Hamas.
O Fórum das Famílias de Reféns reagiu de forma contundente à notícia, dizendo que se tratava de uma sentença de morte para os restantes reféns.
Entretanto, Israel vai adicionando novas reservas na frente diplomática, desta vez com o Vaticano. Segundo a imprensa de Israel, o país protestou com o Vaticano depois de uma alta figura da hierarquia do papa Francisco ter definido o que está a acontecer em Gaza como uma "carnificina" resultante de uma resposta militar israelita desproporcionada.
"É uma declaração deplorável. Julgar a legitimidade de uma guerra sem levar em conta todas as circunstâncias e dados relevantes inevitavelmente leva a conclusões erradas", diz a embaixada israelita na Santa Sé em comunicado. O cardeal secretário de Estado Pietro Parolin reiterou o "pedido para que o direito de defesa de Israel, que foi invocado para justificar esta operação, seja proporcional, e certamente com 30 mil mortes, não o é".
"Acredito que estamos todos indignados com o que está a acontecer, com essa carnificina, mas devemos ter a coragem de seguir em frente e não perder a esperança", diz Parolin, acrescentando que "devemos encontrar outras maneiras de resolver o problema de Gaza, o problema da Palestina".