No contexto das tensões com os Estados Unidos e com a esmagadora generalidade da comunidade internacional, o ministro israelita da Energia, Eli Cohen, afirmou esta segunda-feira que "nenhum líder responsável estabeleceria outro Estado" na Palestina. “Alguns dos países que pedem o estabelecimento de um Estado palestiniano disseram que Gaza se tornaria Singapura, mas em vez de Singapura temos o Hamastan [o lugar ou a casa do Hamas]", disse Cohen, também ex-ministro das Relações Exteriores, da Inteligência e da Economia. "Não ouvi nem mesmo um líder desses países exigir que a Autoridade Palestiniana pare de pagar salários a terroristas", afirmou, dando nota de que, na sua ótica, a solução dos dois Estados para a Palestina não é em nenhuma circunstância aceitável para Israel.
Cohen disse também que a paz com a Arábia Saudita é possível dentro do ano, mas "a paz só se faz com os fortes. É por isso que é importante continuar a guerra até uma vitória esmagadora". Resta saber se os sauditas estão dispostos a continuar a de fora para o desastre étnico que está a passar-se em Gaza e no final aceitar sentar-se à mesma mesa dos seus autores. Para já, Riad afirma que a paz é a única forma de reiniciar conversas sobre entendimentos diplomáticos com Israel – que estavam em curso até 7 de outubro passado, mas que, evidentemente, foram bloqueados mal a guerra começou.
Entretanto, a tensão interna continua em alta em Israel. Esta segunda-feira, familiares dos reféns mantidos pelo Hamas na Faixa de Gaza invadiram uma sessão do Comité de Finanças do Knesset para exigir que o governo faça mais para garantir a sua libertação.
Segundo os jornais israelitas, a segurança do Knesset não conseguiu impedir a entrada dos manifestantes, muitos dos quais velavam fotos dos seus entesem cativeiro, e tiveram que removê-los à força, contando-se pelo menos um ferido que precisou de primeiros socorros.
"Vocês desmantelaram um governo por causa do hametz, mas para os reféns não o desmantelam", gritaram alguns dos manifestantes ao presidente do comité, Moshe Gafni, referindo-se a uma disputa de 2022 sobre valores religiosos que levou um membro da coligação a sair do governo de então, acabando por provocar o seu colapso.
"Viemos aqui para fazer ouvir as nossas vozes ", disse Noa Rahamim, cujo primo, o sargento Matan Angrest, está detido em Gaza, refere uma reportagem do “The Times of Israel”. "Todos os dias eles morrem em Gaza e todos os dias é anunciado que outro refém foi morto. Isto simplesmente não pode continuar assim e viemos ao Knesset para exigir que façam qualquer coisa. Ninguém vai nos calar".
Israel prometeu durante uma trégua em novembro começar a permitir a entrada de 200 camiões de ajuda todos os dias e, desde então, facilitou a transferência de alimentos, água, medicamentos e equipamentos de abrigo para a Faixa de Gaza através das passagens de Rafah e Kerem Shalom. Agora, os manifestantes queixam-se de que a ajuda não proporcionou qualquer libertação de reféns, ou que é para alguns em absoluto incompreensível.
Noa Rahamim, citada pelo mesmo jornal, cujo primo está detido em Gaza, disse que “todos os dias recebemos sacos com corpos. Ontem recebemos a notícia de outro soldado que foi sequestrado e que está morto".
" Fomos esquecidos entre os intermináveis problemas do país e este é o problema mais urgente, acima de todos os outros problemas", disse outro dos manifestantes. Se os reféns não forem libertados, a crise entre os órgãos governamentais e os cidadãos vai piorar".
Respondendo aos manifestantes, Gafni, disse que “resgatar reféns é o mandamento mais importante no judaísmo, especialmente porque se trata de salvar vidas". No entanto, advertiu, "retirar-se da coligação do governo não vai ajudar em nada" e prometeu transmitir as preocupações das famílias ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Israel acredita que mais de 130 reféns permanecem em Gaza, após o acordo no final de novembro que libertou 105 civis nas mãos do Hamas. As forças de defesa de Israel (FDI) confirmaram a morte de 28 pessoas ainda detidas pelo Hamas, citando novas informações dos serviços de inteligência.
O protesto das famílias surge depois de outro protesto em frente ao Knesset também esta segunda-feira, no qual dezenas de manifestantes, muitos deles idosos, se reuniram em frente ao edifício onde está o parlamento para exigir novas eleições. A manifestação também foi dispersa pela polícia. Os manifestantes chamaram aos partidos da coligação "traidores que desistiram dos reféns".
Após um encontro com representantes das famílias dos reféns esta segunda-feira, Netanyahu declarou em comunicado que não há "nenhuma proposta real do Hamas"., mas disse que "há uma iniciativa nossa, mas não vou entrar em detalhes".
No passado domingo, um grupo de famílias de reféns e outros manifestantes bloqueou o trânsito junto à residência particular de Netanyahu em Jerusalém, exigindo que o governo chegue a um acordo para garantir o regresso dos reféns.