O ministro do Gabinete de Guerra, Benny Gantz – um dos líderes da oposição antes do ataque de 7 de outubro e da formação do gabinete de crise – admitiu que Israel está a travar uma "guerra de várias frentes" e não apenas na Faixa de Gaza. Até agora, o primeiro-ministro tem rejeitado que o exército tenha que se haver com vários focos, mas o aumento da tensão na fronteira com o Líbano já não permite mais nuances linguísticas.
"O foco é Gaza, mas estamos a lutar na defesa e no ataque, tanto no norte [Líbano] como noutros lugares", disse o ministro, numa intervenção no quartel-general militar da capital, Telavive, que marcou um mês desde o ataque do Hamas em 7 de outubro.
Segundo a imprensa israelita, mais de 20 foguetes foram disparados esta terça-feira do Líbano contra Israel, enquanto diplomatas norte-americanos continuam tentando a tentar impedir que o movimento libanês Hezbollah aumente os ataques.
Gantz disse ainda que "a guerra que estamos a travar em Gaza é diferente de tudo o que vivemos no passado", apontando em particular, segundo as mesmas fontes, para o quão profundamente enraizado está o Hamas no seio das populações civis. O que não será propriamente de espantar: desde que o Hamas e a Autoridade Palestiniana deixaram de ter contactos institucionais que o enclave foi deixado à sua sorte, o que permitiu aos grupos radicais tomarem lugar de todos os aspetos da vida dos palestinianos cercados naquele pequeno retângulo de terreno encravado entre Israel, o Mediterrâneo e o Egipto.
“Somos obrigados a lutar em profundidade contra um inimigo que transformou hospitais e escolas em salas de combate e depósitos de armas", disse Gantz. O ministro – que chegou a ser ministro da Defesa de um gabinete de coligação com Benjamin Netanyahu antes de com ele se desentender – disse ainda que Israel fará tudo o que está ao seu alcance, tanto do ponto de vista político como militar, para libertar os reféns – naquele que continua a ser um dos pontos mais sensíveis da crise.
"Prometo que faremos de tudo para trazê-los para casa, pela força e pela ação política. Lutaremos contra aqueles que for preciso e falaremos com quem pudermos", disse, evitando defender uma troca de prisioneiros de segurança palestinianos, como tem sido proposto por algumas fontes.
Mas fica a impressão de que o governo de crise não está alinhado neste domínio. De facto, também ontem, o ministro da Defesa, Yoav Gallant, dizendo que a Faixa de Gaza é “a maior base terrorista que a humanidade já construiu”, voltou a rejeitar qualquer pausa humanitária antes da libertação dos mais de 240 reféns mantidos no enclave pelo Hamas.
Em um comunicado, Gallant disse que as forças de defesa terrestre (as IDF) estão posicionadas "no coração" da Cidade de Gaza e invadiram redutos terroristas que iam "em todas as direções, em perfeita coordenação com as forças marítimas e aéreas", e estão “a apertar o cerco" em torno da cidade. “Vamos continuar até à vitória e até que os reféns sejam devolvidos para casa", diz – sendo que uma coisa pode impedir a outra, como têm alertado vários analistas militares.
Sobre a crescente pressão internacional para que seja decretada uma pausa humanitária, Gallant disse que “pausas humanitárias, para mim, significam, em primeiro lugar, o regresso dos reféns mantidos pelos selvagens. Não haverá pausas humanitárias sem esse regresso”.
A questão dos reféns levou centenas de pessoas realizarem um protesto em frente à sede da ONU em Nova Iorque, exigindo a sua libertação. Os manifestantes apelam ao secretário-geral António Guterres para agir imediatamente face ao que diziam ser a maior crise de reféns da história moderna. Manifestando-se em nome do Fórum Israelita de Reféns e Famílias Desaparecidas, os manifestantes exibiam cartazes com fotos da mulher e dos filhos do secretário-geral da ONU rotulados como reféns e com a legenda: "O que faria se seus familiares fossem reféns?"
Entretanto, e ainda segundo os jornais israelitas, o Conselho Nacional de Planejamento e Construção avançou com um plano para estabelecer uma nova comunidade judaica perto da fronteira com Gaza. A proposta seria autoria da ministra de Proteção Ambiental, Idit Silman, do Likud (o mesmo partido de Netanyahu) e contra opiniões de alguns elementos da sua própria equipa. De facto, e segundo as mesmas fontes, alguns elementos do ministério são de opinião que o esforço deve passar por reinstalar as cidades existentes na vizinhança e que foram saqueadas durante a ofensiva de 7 de outubro. Idit Silman recuou, mas recordou que a “posição sionista” é a de apoiar projetos que ajudam a expandir o domínio de Israel sobre o território.