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Israel: Gabinete de crise de Netanyahu entra ele próprio em crise

As dissensões no interior do gabinete de crise formado depois de 7 de outubro já não são disfarçáveis. A pergunta já não é se o gabinete vai desfazer-se, mas quando. Extrema-direita é a mais aguerrida.

É cada vez mais difícil ao primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disfarçar a profunda crise política que se instalou no interior do gabinete de crise criado depois dos ataques do Hamas levados a cabo no dia 7 de outubro. Em causa parece estar, segundo a imprensa israelita, uma divisão de fundo sobre a forma como Israel deve atuar na sua guerra contra o Hamas.

De um lado, estão os partidos da extrema-direita e da ortodoxia religiosa – liderados pelos ministros da Segurança e das Finanças, respetivamente Itamar Ben Gvir e Bezalel Smotrich – que entendem chegada a hora de, pura simplesmente, expulsar os palestinianos das suas terras (e de Israel) e retomar Gaza. E, já agora, e na medida do possível, tomar também a Cisjordânia. Será de recordar que, ainda segundo as mesmas fontes, os colonatos na Cisjordânia têm ganho assinalável dimensão desde 7 de outubro. Vale também a pena recordar que estes grupos políticos estiveram por trás da contestação ao cessar-fogo (que acabou por ser de seis dias) e mesmo à troca de reféns nas mãos do Hamas por prisioneiros palestinianos encerrados nas prisões israelitas.

Do outro lado estão os mais moderados, como por exemplo Benny Gantz, que entendem que os excessos de Israel podem levar a uma situação inédita há mais de uma década: um entendimento entre o Hamas e a Fatah (que lidera a Autoridade Palestiniana) no que tem a ver com o combate a Israel. Se este entendimento se der, Gaza e a Cisjordânia podem voltar a combater a ocupação e a violência israelita em alinhamento – o que com certeza dificultaria as ações israelitas e seria uma dificuldade acrescida em termos de segurança interna.

Segundo a imprensa israelita, poucos dias depois de uma reunião convocada para tratar da questão da Gaza do pós-guerra ter terminado em acusações e recriminações, três ministros do partido Unidade Nacional, de Benny Gantz, faltaram à reunião de gabinete este domingo. Gantz, Gadi Eisenkot e Chili Tropper - todos membros da fação centrista Azul e Branco da Unidade Nacional >(liderada pelo primeiro) - não compareceram à reunião semanal de ministros de domingo devido à esperada falta de discussão substantiva de questões relacionadas com a guerra.

"Não havia questões essenciais para a condução da guerra e, portanto, não viemos", disse um porta-voz de Gantz ao jornal “The Times of Israel”. "Quando surgirem temas relacionados com a guerra, Benny virá". Falando com a Rádio do Exército no domingo, Tropper relacionou a sua ausência na reunião do gabinete de segurança da última quinta-feira, durante a qual ministros de direita atacaram repetidamente o chefe do Estado-Maior das Forças israelitas de defesa, FDI, Herzi Halevi, sobre o plano dos militares de investigar os seus próprios erros no período que antecedeu a investida do Hamas em 7 de outubro. "Essas coisas estão relacionadas aos confrontos no gabinete", disse Tropper. O ministro disse que não sabia "por quanto tempo estaremos no governo; só sei que entrámos para o bem do país e a nossa saída também estará relacionada com o bem do país."

A reunião convocada para discutir os planos de Israel para a Faixa de Gaza no pós-guerra, acabou em forte e pública polémica entre ministros e militares, levando Gantz a avisar Netanyahu de que o primeiro-ministro tinha de escolher entre a unidade e fazer política.

Antes da disputa da semana passada, Gantz também havia entrado em conflito com o governo sobre a decisão do ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, de não estender o mandato da comissária do Serviço Penitenciário de Israel, Katy Perry, uma medida que o líder do partido Unidade Nacional alertou que prejudicaria a segurança.

Um dos temores dos analistas – vertido este fim-de-semana para as páginas do jornal norte-americano “Washington Post” – é que a posição cada vez mais frágil, solitária a acossada de Netanyahu o levem a optar por estender a guerra a outros domínios, nomeadamente ao Líbano e ao Hezbollah, que controla o que ainda existe de vida política naquele país.

Respondendo aos temores de que o gabinete de crise pouco tempo mais sobreviverá, Netanyahu disse este fim-de-semana que "é necessário deixar todas as outras considerações de lado e continuarmos juntos até à vitória absoluta".