Numa altura em que os líderes de diversos países da União Europeia visitam Israel para apresentarem os seus préstimos em defesa do Estado judaico – esta quarta-feira foram a Áustria e a República Checa – os Estados Unidos conseguiram impor uma suspensão da anunciada investida das forças de defesa (IDF) sobre Gaza por terra, avança a imprensa israelita.
Em questão está, por um lado, a contenção da guerra – que o governo de Joe Biden considera essencial, desde logo porque é de opinião que uma entrada das IDF por terra vai resultar na ocupação de Gaza por Israel; mas, por outro, e talvez mais importante, porque essa é a única forma de manter as negociações diplomáticas em torno dos mais de 200 reféns que continuam nas mãos do Hamas.
Esta matéria está, aliás, e ainda segundo as mesmas fontes, a provocar uma forte celeuma em Israel. As negociações envolvem pelo menos os Estados Unidos, o Egipto, o Qatar e Israel. Mas, segundo avança o jornal “The Times of Israel”, o negociador nomeado pelo governo de Benjamin Netanyahu, Gal Hirsch, está a ter uma atitude que não está a ajudar.
Gal Hirsch, não participou nas negociações para libertar os quatro reféns deixados ir em paz pelo grupo radical islâmico. Crescentes críticas têm surgido quanto ao desempenho de Hirsch – nomeadamente da parte de Mohammad al-Emadi – o enviado do Qatar a Gaza, que afirma, segundo o jornal, que tentou contactar o seu homólogo israelita durante uma semana, mas não conseguiu. Apesar disso, Hirsch surge em fotos com Judith e Natalie Raanan, duas das libertadas, o que deixou os restantes negociadores deveras surpreendidos.
Na semana passada, e ainda segundo as mesmas fontes, Hirsch chocou um grupo de embaixadores estrangeiros ao convocar uma reunião para discutir os esforços para libertar os reféns, tendo explicado que a sua presença ali se dava para “ensinar” qual seria a abordagem dos seus governos ao conflito israelo-palestiniano. Com gritos à mistura.
O alto funcionário diplomático citado pelo “The Times of Israel” disse que o Qatar, o Egipto e os Estados Unidos preferem trabalhar com o ex-comandante da Mossad Yossi Cohen e com os generais na reserva Nitzan Alon, Lior Carmeli e Yoav (Poli) Mordechai, ao invés de terem que se haver com Hirsch.
Entretanto, e ainda na frente diplomática, os desentendimentos entre Israel e o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, continuam em alta. Ao início do dia de ontem, quarta-feira, Israel tomou a decisão de impedir – ou pelo menos despromover – a entrada de membros da ONU no seu território, o que levou a organização internacional a ter que dar explicações.
Guterres voltou a explicar que considerada inqualificável a investida terrorista do Hamas no passado dia 7 de outubro e que o seu enquadramento histórico não merece polémica tão acesa. Nada disto sucederia noutras circunstâncias – mas o facto de haver uma guerra em curso devia ter obrigado Guterres a ser mais cauteloso, dizem alguns analistas. Mas, para outros, o secretário-geral da ONU nada mais disse que a evidência resultante principalmente da atuação de Israel ao longo dos últimos 57 anos, referiu ao JE o Embaixador Francisco Seixas da Costa.
De qualquer modo, a polémica pode objetivamente retirar à ONU margem de manobra para tentar fazer sentar á mesma mesa todas as partes envolvidas no confronto – o que pode ser um impedimento para um caminho (sinuoso e muito comprido) para o regresso de algum entendimento entre Israel e a Faixa de Gaza.