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Israel: Estados Unidos ameaçam com embargo de armas

O governo norte-americano quer que Israel resolva a crise humanitária em Gaza. Se não o fizer, o executivo de Netanyahu pode enfrentar um embargo de armas, diz um relatório agora tornado público. Espanha e Irlanda exigem que a União Europeia acabe com o silêncio sobre Israel.

Um relatório dado a conhecer pela imprensa israelita afirma que os Estados Unidos impuseram ao governo de Benjamin Netanyahu que resolva a grave crise humanitária em que lançou toda a população de Gaza – e, se não o fizer, a resposta pode ser um embargo à venda de armas.

O topo do governo norte-americano enviou uma mensagem clara de que a crise humanitária na Faixa de Gaza deve ser encerrada dentro de um mês. Segundo o site israelita N12, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e o secretário de Defesa, Lloyd Austin, apresentaram um documento aos ministros Yoav Gallant (defesa) e Ron Dermer (Assuntos Estratégicos) no qual esclareceram a exigência: "A falha em implementar essas medidas pode levar a consequências para a política dos Estados Unidos". A Casa Branca expressou profunda preocupação com a "deterioração da situação humanitária em Gaza nas últimas semanas" e pediu medidas urgentes no próximo mês para reverter essa tendência.

O documento tem alguns dias e “o próximo mês” é outubro – de onde se conclui que a administração Biden quer o assunto resolvido precisamente antes das eleições norte-americanas (a 5 de novembro). Para vários analistas, a questão de Israel está a influenciar de forma negativa a prestação da candidata democrata Kamala Harris: parte dos eleitores norte-americanos que consideram a prestação de Israel desastrosa está pouco à vontade com a falta de empenho da candidata no que tem a ver com as questões do Médio Oriente. Quando questionada sobre o assunto, Harris trata de ser o mais vaga possível: diz que Israel tem o direito a defender-se, mas não apresenta uma visão mais profunda sobre a matéria. Para todos os efeitos, se Kamala Harris conseguir provar, mesmo que em cima das eleições, que fez o suficiente para aliviar o sofrimento em Gaza, isso pode ser uma importante alavanca para a sua campanha.

O relatório enviado aos dois ministros israelitas exigia que Israel cumprisse o seu compromisso, de março de 2024, "de permitir e não impedir a transferência de ajuda humanitária americana ou ajuda apoiada pelo governo em Gaza". A administração Biden salienta que setembro foi o mês, desde o início do conflito, em que uma menor quantidade de ajuda humanitária entrou em Gaza. O enclave está a enfrentar as maiores restrições à ajuda humanitária desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, há mais de um ano, disse a ONU esta terça-feira, lamentando o impacto especialmente devastador sobre as crianças. "Dia após dia, a situação das crianças torna-se pior que no dia anterior", disse James Elder, porta-voz da agência da ONU para a infância, a Unicef.

O anúncio da decisão da administração Biden foi feito, diz o N12, logo após os Estados Unidos decidirem implantar no terreno israelita o seu sistema de defesa antimísseis THAAD. Ou seja, a decisão do embargo já é posterior ao mais recente ataque iraniano a solo israelita.

Recorde-se que o presidente francês, Emmanuel Macron, também pediu um embargo de armas a Israel. Por outro lado, o ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, David Lammy, criticou a "inação do governo israelita" por permitir que a "impunidade floresça" entre os colonos extremistas na Cisjordânia, ao mesmo tempo em que anunciou uma nova onda de sanções contra os grupos em resposta à violência.

As medidas, refere a imprensa britânica, visam três postos avançados e quatro organizações que apoiaram e suportaram "abusos hediondos dos direitos humanos" contra as comunidades palestinianas no território ocupado, disse o secretário de Relações Exteriores. Os postos avançados de colonos sancionados incluem o Posto Avançado do Vale do Tirzah, o Posto Avançado de Meitarim e o Posto Avançado de Shuvi Eretz. As quatro organizações visadas são Od Yosef Chai Yeshiva, Hashomer Yosh, Torat Lechima e Amana.

Também a Irlanda anunciou que não vai "esperar" que o resto da União Europeia tome medidas contra os colonos israelitas extremistas, disse o primeiro-ministro, Simon Harris – para adiantar que o país pode decidir um bloqueio às importações de produtos fabricados nos territórios ocupados.

O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez – que há poucos meses anunciou que o seu país reconhecia a Palestina como um Estado independente – exigiu à Comissão Europeia que responda, "de uma vez por todas", ao "pedido formal" feito por Dublin e Madrid em fevereiro "para suspender" o acordo de associação comercial com Israel.

No terreno, e dando um sinal de que Israel pode expandir as suas operações terrestres contra o Hezbollah, enquanto reforça as suas próprias defesas, as forças de defesa (IFD) removeram minas terrestres e estabeleceram novas barreiras na fronteira entre os Montes Golã (ocupadas por Israel) e uma faixa desmilitarizada na fronteira com a Síria, adianta a agência Reuters. A medida sugere que Israel pode tentar atacar o Hezbollah pela primeira vez mais a leste, ao longo da fronteira com o Líbano, ao mesmo tempo que cria uma faixa de terreno para evitar a infiltração do grupo no seu território.