Skip to main content

Israel: cresce a tensão entre os militares e o governo de Netanyahu

Há duas semanas que as Forças de Defesa de Israel (IDF) esperam uma ordem expressa do governo de Benjamin Netanyahu para entrarem no território de Gaza. Mas essa ordem não chega e a paciência está a esgotar-se.

As forças de Defesa de Israel (IDF) estão há duas semanas a movimentar as suas tropas, posicionando-se para a entrada na Faixa de Gaza por terra, na tentativa de acabarem com as infraestruturas e os militantes do Hamas e da Jihad Islâmica. Mas as tropas há muito que estão posicionadas e a ordem emanada do governo liderado por Benjamin Netanyahu tarda em chegar. Assim, os jornais israelitas afirmam que os líderes das IDF estão a perder a paciência e a pressionar o primeiro-ministro para que emita a ordem.

Do seu ponto de vista, afirmam as fontes dos jornais, o tempo certo para a entrada já passou há muito: o espanto e a comoção que causou ao mundo a incursão do Hamas a 7 de outubro passado já se foi desvanecendo – o que quer dizer que o exército perdeu já o timing certo para entrar em Gaza. Quanto mais tempo passa, mais a guerra de imagens alavanca as posições de Gaza – com Israel a ter pouco para mostrar senão a repetição dos vídeos feitos a 7 de outubro.

Segundo os analistas, continua a ser a questão dos reféns que impede a ordem do governo. Não é certo, evidentemente, que a suspensão da invasão de Gaza possa vir a salvar as vidas das cerca de duas centenas de reféns que se encontram (supostamente) em Gaza. Mas Netanyahu tem em vista a sua vida política depois do ‘dia seguinte’ e não pode correr riscos de ser responsabilizado por qualquer desastre de grandes proporções com os reféns.

Do lado da IDF, as coisas funcionam quase ao contrário: os israelitas estão fartos de verem imagens das suas forças de defesa alinhadas em estradas e dos seus carros de combate em posição nas proximidades da fronteira com a Faixa de Gaza sem que nada aconteça.

As IDF têm vindo a afirmar que está pronta para a invasão terrestre de Gaza, o que acrescenta pressão sobre Netanyahu. O exército credita que, para atingir os objetivos da guerra contra o Hamas, estabelecidos pelo próprio governo, os militares devem iniciar a sua ofensiva terrestre na Faixa de Gaza de uma vez.

Após 16 dias de ataques aéreos, as IDF disseram ao governo que estão totalmente preparadas para uma ofensiva terrestre na Faixa de Gaza e acreditam que podem atingir os objetivos estabelecidos, mesmo com o risco de pesadas baixas para os soldados, e no meio de repetidos ataques do Hezbollah na fronteira com o Líbano, refere o jornal “The Times of Israel”.

Mais ainda, as IDF afirmam que, caso o exército precise de mover o seu foco para o norte (o Líbano) e deixar Gaza, está confiante que pode fazê-lo em apenas alguns dias. As FDI já reforçaram fortemente a fronteira com o Líbano, mas a maioria das forças permanece perto de Gaza, refere o jornal.

Em relação aos 222 reféns confirmados mantidos pelo Hamas na Faixa de Gaza, os militares estão preparados para a possibilidade de uma operação de resgate que siga o seu curso ao mesmo tempo que a própria ofensiva terrestre tenha lugar, de acordo com informações veiculadas pelo “The Times of Israel”. O grau de preparação pode é não ser suficiente – pelo menos partindo-se do princípio que Israel não tem a certeza sobre onde é que os reféns estão a ser mantidos. Se houvesse essa certeza, provavelmente já teria sido efetuada uma operação especial de resgate.

Ainda segundo aquele jornal, os militares temem que novas libertações de reféns pelo Hamas possam levar a liderança política a atrasar uma incursão terrestre ou mesmo a desistir dela. Na noite de sexta-feira, o Hamas libertou mãe e filha norte-americanas, o que, segundo refere o jornal, levou ao adiamento da ofensiva terrestre.

Face a estas evidências, o governo teve de fazer qualquer coisa. "O primeiro-ministro, o ministro da Defesa e o comandante das IDF estão a trabalhar juntos e em estreita cooperação, para trazer uma vitória total de Israel sobre o Hamas", diz um comunicado do gabinete de Netanyahu, do gabinete do ministro da Defesa, Yoav Gallant, e do porta-voz das IDF. O problema, diz ainda o mesmo jornal, é que o ministro da Defesa parece estar mais do lado das IDF que do próprio primeiro-ministro.

"Há total confiança entre o primeiro-ministro Netanyahu, o ministro da Defesa e o comandante das FDI, Herzi Halevi, que estão unidos num propósito claro", continua o comunicado. "Pedimos aos meios de comunicação que ajam com responsabilidade e evitem publicar mentiras que só ferem a nossa união e a nossa força”.

Mais tarde durante o dia de ontem, Yoav Gallant, prometeu que Israel realizará a ofensiva terrestre na Faixa de Gaza, "letal", durante um encontro com a Marinha israelita. "Estamos a preparar-nos a fundo. Será um ataque letal. Será um ataque combinado por terra, mar e ar", disse. "Façam o vosso trabalho, preparem-se, que nós vamos implantá-lo", acrescentou Gallant.

Entretanto, o “The New York Times”, citando um alto funcionário militar israelita, dizia esta segunda-feira que estão em andamento negociações para a libertação de cerca de 50 cidadãos com dupla nacionalidade, como resultado de entendimentos diplomáticos entre os Estados Unidos e o Qatar. E que para isso acontecer, as tropas israelitas têm que manter-se em posição, mas sem atacar.