O ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Israel Katz, pediu que o seu gabinete considere a deslocação temporária de palestinianos que residem atualmente no norte da Cisjordânia para que as forças de defesa (IDF) possam atuar sem restrições no território, na tentativa de encontrar os responsáveis por um atentado suicida da semana passada na capital, Telavive. “Precisamos de lidar com a ameaça terrorista exatamente como lidamos com a infraestrutura terrorista em Gaza, incluindo a evacuação temporária de civis palestinianos e qualquer outra medida necessária”, escreveu numa rede social, afirmando que está em operação “uma guerra em todos os sentidos”.
Para todos os efeitos, esta investida representa uma escalada da guerra em Gaza para um novo território, a Cisjordânia – que já estava sob forte pressão do exército (e dos colonos israelitas armados) – o que pode fazer aumentar ainda mais o impacto da crise que vai evoluindo no Médio Oriente.
Katz disse que as forças israelitas que operam em Jenin, Tulkarem e outras áreas da Cisjordânia estão a trabalhar para desmantelar uma rede terrorista apoiada pelo Irão que estaria a ser construída na Cisjordânia. “O Irão está a trabalhar para estabelecer uma frente de terror contra Israel na Cisjordânia, de acordo com o modelo usado no Líbano e em Gaza, financiando e armando terroristas e contrabandeando armamento avançado a partir da Jordânia”, escreveu ainda.
Apesar das enormes diferenças entre a Cisjordânia e Gaza – na Cisjordânia, o Hamas e outros grupos extremistas foram praticamente banidos – desde outubro passado que as posições se foram aproximando. A própria Autoridade Palestiniana – que tinha péssimas relações com o Hamas – acabou por empreender o reencontro de forças, dado o grau de intromissão que Israel produziu no enclave desde que passou a responder aos atentados de 7 de outubro. E se mais de uma década de desentendimento afastou o Hamas da Autoridade Palestiniana, o certo é que a forma como as IDF têm vindo a atuar em Gaza promoveu essa aproximação – que para muitos analistas era basicamente impossível.
De acordo com as Nações Unidas, cerca de 88,5% do território da Faixa de Gaza “foi colocado sob ordens de evacuação” após o ataque do Hamas a Israel – para permitir que as FDI procedam ao combate ao grupo radical, que está profundamente enraizado em áreas civis. Se as ordens de evacuação forem introduzidas na Cisjordânia, isso quererá dizer que o território passará a ser ‘escrutinado’ como tem sido a Faixa de Gaza.
Os desentendimentos entre os palestinianos que vivem na Cisjordânia e o exército israelita ou os israelitas que vivem nos colonatos (considerados ilegais pelas Nações Unidas) têm vindo a aumentar desde que a guerra em Gaza começou – e tenderá a agravar-se se as deslocações de civis vierem de facto a ter lugar.
Segundo a imprensa israelita, o ministro da Agricultura, Avi Dichter, parece apoiar Katz: “Se tivermos que evacuar as pessoas para manter os nossos soldados em segurança, serão evacuadas. Não estão a ser enviados para o exterior – estão a ser evacuados e depois disso voltarão para casa”.
Katz e Dichter fazem parte do bloco do governo que é observada como instigadora da guerra. Ambos foram, aliás, citados no Tribunal Internacional de Justiça de Haia como parte do caso de genocídio que a África do Sul instalou contra Israel. O ministro do Património, Amichay Eliyahu, é outro deles, depois de ter dito que o uso de armas nucleares contra o Hamas seria uma opção. O próprio procurador do Estado, Amit Aisman, tentou investigar o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, por incitação à violência contra os habitantes de Gaza. E em agosto, recorda ainda a imprensa israelita, o chefe da diplomacia externa da União Europeia, Josep Borrell, disse que o bloco deveria considerar sancionar Ben-Gvir e o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, por comentários que ele disse constituírem “incitação a crimes de guerra”.