As partes envolvidas nas negociações em tornos das mais de duas centenas de reféns mantidos pelo Hamas algures em Gaza avançaram esta quarta-feira que um acordo entre todos ficou mais longe de ser conseguido. O acordo era já de si uma versão simplificada de um acordo mais amplo que está no horizonte de pelo menos uma parte dos envolvidos – mas, apesar de o que estava em discussão era ‘apenas’ a troca de 50 reféns por um cessar-fogo (ou uma pausa humanitária, as guerras também têm batalhas com eufemismos) de três dias, ele está agora mais longe.
Segundo adianta a imprensa israelita, o Hamas mostrou-se repentinamente pouco interessado no acordo, depois de as forças de defesa (IDF) terem tomado de assalto o Hospital Al-Shifa – que, segundo adiantam fontes oficiais militares – está agora na posse total das forças de Israel. A Organização Mundial de Saúde e vários países já condenaram a operação militar, que parece ter decorrido em primeiro lugar com a asfixia do seu funcionamento (com o corte de energia) e depois com um assalto armado.
Com as negociações bloqueadas, o Egipto tem tentado atender as situações mais dramáticas – ou pelo menos aquelas que se encontram mais perto da fronteira com o enclave. Uma organização das Nações Unidas, a UNRWA, disse que recebeu cerca de 23 mil litros de combustível via Egipto, mas recordou que é apenas 9% do que organização diz que precisa para sustentar as atividades diárias.
Entretanto, outro dos efeitos colaterais das ações de Israel em Gaza é o esfriamento das relações entre o Estado hebraico e uma série de países com que mantinha relações (mais ou menos) amistosas. A Turquia é um desses casos. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, chamou Israel de “Estado terrorista” que está a cometer crimes de guerra e a violar o direito internacional em Gaza. E reiterou sua afirmação de que o Hamas é o partido político eleito pelos palestinianos. O ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Eli Cohen, respondeu que aqueles que " encorajam grupos terroristas", não podem dar conselhos a Israel.
A Turquia e Israel têm desde sempre uma relação que passa por períodos de algum desanuviamento, misturados com outros em que impera a crispação. O momento imediatamente anterior a 7 de outubro era um dos momentos ‘bons’. Mas as recentes investidas de Erdogan contra a reação israelita depois do ataque de que foi alvo fez voltar tudo atrás. Neste quadro, e depois do seu ministro, Netanyahu também reagiu às palavras do presidente turco, tendo afirmado que um político que persegue turcos no seu próprio território (referindo-se aos curdos) não tem que dar conselhos a nenhum país.
Mais inesperada foi a reação do primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, que foi um dos primeiros líderes ocidentais a colocar-se ao lado de Israel depois de 7 de outubro, mas que esta quarta-feira se mostrou sensível ao sofrimento dos palestinianos. E exigiu a Israel que parere com “este assassínio de mulheres, de crianças, de bebés" na Faixa de Gaza. “O preço da justiça não pode ser o sofrimento contínuo de todos os civis palestinianos", disse, para enfatizar que “até as guerras têm regras. Todas as vidas inocentes são de igual em valor – israelitas e palestinianos", disse.
Tal como com Erdogan, e ainda segundo a imprensa israelita, Benjamin Netanyahu já repudiou as declarações do seu homólogo canadiano. Respondendo a Trudeau, Netanyahu disse que "não é Israel que está deliberadamente a atacar civis, mas sim o Hamas que decapitou, queimou e massacrou civis nos piores horrores perpetrados contra judeus desde o Holocausto". "Enquanto Israel está a fazer de tudo para manter os civis fora de perigo, o Hamas está a fazer de tudo para mantê-los em perigo", escreveu Netanyahu. "Israel fornece aos civis em Gaza corredores humanitários e zonas seguras, o Hamas impede-os de sair sob a mira de armas. É o Hamas, e não Israel, que deve ser responsabilizado por cometer um duplo crime de guerra – atacar civis enquanto se esconde atrás de civis”, disse.