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Irão afirma que Prémio Nobel a Narges Mohammadi é mera política

Como seria de esperar, o regime de Teerão afirma que o Nobel da Paz surgiu por razões políticas. O ministério dos Negócios Estrangeiros e um comité de mulheres parlamentares convergem nos mesmos argumentos.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano, Nasser Kana'ani, condenou a atribuição do Prémio Nobel da Paz a Narges Mohammadi como sendo uma iniciativa "rancorosa e politicamente motivada". O prémio, observou, foi atribuído a uma mulher iraniana condenada por cometer atos criminosos.

Em comunicado, Kanaani disse que o movimento político do Comité Nobel está alinhado com "políticas intervencionistas e anti-iranianas de alguns países europeus". E acrescentou que a decisão do comité é "mais um elo na cadeia de pressão do Ocidente contra o Irão", que “não terá resultados” a não ser reforçar a determinação do país iraniano em seguir “a sua política independente”.

Kanaani enfatizou que a decisão de conceder o prémio a Mohammadi foi um "desvio dececionante dos objetivos” de alguma reaproximação que se vinha verificando. Também criticou o Comité Nobel por fazer "afirmações incorretas e falsas" sobre o Irão, que indiciam "a abordagem de alguns governos europeus para fabricar informações e produzir narrativas confusas e desviantes sobre os desenvolvimentos internos no Irão".

A imprensa oficial diz que num movimento político, o Comité Nobel norueguês concedeu a Narges Mohammadi, de 51 anos, o Prémio Nobel da Paz de 2023, alegando que tem lutado "contra a opressão das mulheres". Esteve dentro e fora da prisão durante grande parte da sua vida adulta e atualmente cumpre uma pena na prisão de Evin, em Teerão.

Em 2016, um tribunal de apelações iraniano confirmou a sentença de 16 anos a Mohammadi, sob acusação de conluio contra a segurança nacional, campanhas de propaganda contra o governo, bem como de formar e dirigir um grupo ilegal. Foi libertada em 2020, mas enviada de volta à prisão em 2021 sob acusações que incluem espalhar propaganda contra o Estado islâmico.

Kanaani disse ainda que, como um dos fundadores das Nações Unidas, o Irão sempre enfatizou a realização "objetiva" da paz nos níveis regional e global e sempre fez esforços para promover uma cultura da paz.

O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros aconselhou o comité a parar de desempenhar um papel na implementação das políticas fraudulentas de certos países ocidentais e conceder o Prémio Nobel da Paz a indivíduos ou organismos que "sinceramente buscam comprometer a cultura de paz e justiça no mundo".

Por outro lado, a fação feminina do parlamento iraniano criticou a decisão do Comité Nobel, alegando que o prémio deveria ser um instrumento para restaurar a paz mundial, aproximar as nações e evitar a violência. Infelizmente, diz o comité, nos últimos anos, o prémio foi concedido a belicistas como Shimon Peres, Isaac Rabin e Barack Obama, “que desempenharam um papel significativo na imposição de severas sanções ao Irão, o que mostra que o prémio é político e é concedido aos inimigos das nações livres do mundo”.

As ações de Mohammadi, diz ainda o grupo, opõem-se consistentemente ao Estado de Direito e ao avanço dos processos democráticos no país, e são inconsistentes com qualquer promoção da paz e estabilidade e intensificaram comportamentos agressivos e desumanos na forma de impor ou aumentar sanções.

“Conceder o Prémio Nobel da Paz a uma pessoa com tais ações belicistas mostra medidas politizadas impostas pelo Comité Nobel, em vez de apoiar a paz, a amizade e as ações humanitárias”, diz o comunicado.