O dia foi de cautela nos mercados europeus, com os investidores a digerirem sinais desanimadores sobre a economia e as perdas que marcaram as bolsas na semana passada. O foco também está virado para o Fórum do Banco Central Europeu (BCE), que decorre em Sintra até quarta-feira. O discurso de Christine Lagarde, presidente do banco central, vai marcar esta terça-feira, podendo dar pistas sobre o rumo da política monetária.
O Stoxx 600, o índice de referência que agrega as maiores cotadas europeias, encerrou a recuar 0,1% naquela que foi uma sessão volátil, com o alemão Dax a registar perdas semelhantes. A contrariar a tendência seguiu o francês CAC, que subiu 0,3%, mas também o PSI, o índice de referência nacional, que valorizou perto de 0,7% à boleia da Galp Energia.
O desempenho dos mercados europeus reflete, por um lado, as perspetivas que vão sendo conhecidas para a economia da zona euro. A S&P Global Ratings, por exemplo, melhorou a sua previsão de 2023 para o produto interno bruto da região de 0,3% para 0,6%, apontando como um dos motivos a robustez do mercado laboral.
No entanto, os analistas decidiram reduzir a previsão de crescimento referentes a 2024, para 0,9% face aos anteriores 1%, numa altura em que alguns dos ventos favoráveis sentidos na pós-pandemia estão a desaparecer e em que a subida das taxas de juro pode penalizar a procura.
Na Alemanha, a sondagem sobre o clima de negócios também ficou muito aquém das expectativas dos economistas consultados, uma vez que concluiu que as empresas estão “bastante pessimistas” sobre a economia.
Neste cenário de incerteza, o Stoxx 600 registou cinco sessões consecutivas de quedas na semana passada, mantendo a tendência esta segunda-feira, ainda que não se tenha deixado afetar pela rebelião na Rússia durante o fim de semana que deixou sob pressão a bolsa russa e o rublo. Nos EUA, o S&P 500 negociava perto da linha de água.
Por outro lado, os mercados acionistas estão atentos às decisões de política monetária. Os sinais pareciam ir no sentido de uma pausa na subida das taxas de juro, mas os bancos centrais por todo o mundo estão a deixar claro que ainda há trabalho a fazer para se travar a escalada da inflação.
Discurso de Lagarde em foco
Na semana passada, Jerome Powell, presidente da Reserva Federal dos EUA, veio clarificar que a inflação mantém-se demasiado alta para o objetivo de longo-prazo, frisando que a subida dos juros é para continuar, apesar de na última reunião o banco central ter decidido fazer uma pausa nos aumentos.
No Reino Unido, o Banco de Inglaterra anunciou um aumento das taxas de juro de 50 pontos base, para 5%, acima daquilo que era a expectativa do mercado, afirmando que as subida dos juros vão continuar até haver sinais claros de um abrandamento dos preços.
A mesma mensagem tem sido transmitida pelo Banco Central Europeu (BCE). Em meados deste mês, o banco central decidiu elevar os juros noutros 25 pontos base, notando que é “muito provável” que as taxas voltem a subir em julho. “É muito claro para mim que precisamos de pelo menos mais um aumento dos juros e deverá acontecer em julho”, disse Gediminas Simkus, membro do conselho de governadores do BCE e presidente do banco central da Lituânia, esta segunda-feira.
Resta saber se esta perspetiva se vai manter quando os responsáveis de topo dos bancos centrais se encontrarem esta semana no Fórum do BCE, em Sintra, entre os dias 26 e 28 de junho.
Sob o tema “estabilização macroeconómica num ambiente volátil de inflação”, este encontro - cujo programa pode ser consultado aqui - vai estar focado na subida das taxas de juro e até onde esta deve continuar para conter a inflação, havendo o risco de criar uma recessão económica.
Nesse sentido, todos os olhos estarão postos no discurso de Christine Lagarde, presidente do BCE, na manhã desta terça-feira, com os investidores à procura de pistas sobre se o banco central vai continuar a subir os juros, a que ritmo e qual poderá ser o impacto na economia na zona euro.