Como se tem tornado hábito, os principais nomes da política monetária na Europa e América reúnem-se esta semana em Sintra, com a chancela do Banco Central Europeu (BCE). Sob o tema da “Estabilização macro num contexto de inflação volátil”, a pressão nos preços dominará as conversas, como tem sucedido na atualidade económica nos últimos meses, com destaque para a mesa-redonda desta quarta-feira, 28 de junho, com os governadores inglês, americano e japonês a juntarem-se a Lagarde.
O evento já arrancou nesta segunda-feira, 26 de junho, com a receção e discurso de abertura da presidente do BCE, Christine Lagarde, mas as atenções do evento estão centradas nesta terça e quarta-feira, com painéis e discussões em que a inflação tomará o palco central, refletindo o foco dos mercados e legisladores com os preços, uma constante no último ano.
As escaladas de juros nas principais economias ocidentais estarão no centro da discussão, embora haja outros aspetos a gerar alguma expectativa. Com os governadores dos maiores bancos centrais reunidos, as questões sobre o impacto da política ultra acomodatícia dos últimos anos devem surgir, com vários analistas a apontarem o excesso de liquidez como um dos motores da subida em flecha dos preços desde o final de 2021.
Ao mesmo tempo, estes responsáveis devem também manter a sua postura e discurso agressivos, sinalizando uma estratégia de falcão (hawkish) até ao final do ano. Nos EUA, e perante a pausa na subida de taxas em junho pela primeira vez em mais de um ano, os investidores procurarão novamente compreender como pode esta decisão conciliar-se com a expectativa de uma taxa terminal mais elevada, como foi revelado nas projeções macro divulgadas este mês.
Na zona euro, onde a taxa real permanece negativa, Lagarde deve voltar a garantir o compromisso total com o combate à inflação, embora sempre dependente dos dados que venham sendo conhecidos. Os efeitos na atividade económica começam a ser sentidos, com várias vozes mais conservadoras a pedirem contenção, um sinal acompanhado implicitamente por Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, e por outras autoridades nacionais, como o primeiro-ministro ou o Presidente da República.
Também Andrew Bailey, governador do Banco de Inglaterra, e Kazuo Ueda, seu homólogo japonês, participarão neste painel com Jerome Powell e Christine Lagarde, naquele que será o ponto alto do Fórum.
Dando já um sinal quanto ao tom da discussão em Sintra, Luis de Guindos, vice-presidente do BCE, reforçou este fim-de-semana numa entrevista à ABC a importância de uma maior coordenação na política orçamental com a monetária na zona euro, sob pena de arrastar o ciclo de subidas de juro mais do que o esperado face a uma inflação persistente.
A importância de políticas orçamentais ao nível nacional articuladas com a política única monetária tem sido sublinhada repetidas vezes por representantes das instituições europeias, embora governos como o português tenham optado por continuar a desenhar apoios já depois de ter sido pedida uma estratégia para a retirada dos mesmos. Pior: face aos pedidos repetidos de apoios “direcionados e feitos à medida” das populações mais vulneráveis, regimes como o IVA zero contrariam evidentemente as diretivas de Bruxelas e Frankfurt.
O vice-presidente espanhol do BCE tem marcada para quarta-feira uma sessão precisamente sobre o equilíbrio entre as duas dimensões da política económica. Antes, a normalização após largos anos de taxas negativas será debatida, além de possíveis alterações estruturais nos mercados energéticos e do impacto da inflação na economia real.
Na vertente macro, a semana fechará com os números provisórios da inflação no bloco da moeda única em junho (e nas suas principais economias, além da portuguesa), culminando cinco dias intensos em que os preços estarão em grande destaque.