O mercado de fusões e aquisições (M&A, na sigla inglesa) não está a corresponder às expectativas neste início de 2025. A esperada viragem na tendência de quebra que se viveu no ano passado não se concretizou, pelo contrário, o mercado continuou a afundar.
“A atividade de M&A encerrou em 2024 com valores inferiores ao ano de 2023, tendo havido uma queda de cerca de 21%”, diz ao Jornal Económico (JE) Marta Romano de Castro, sócia da Abreu Advogados, apontando que as projeções iniciais para 2025 davam nota de que este “podia marcar uma viragem no mercado, com uma possível retoma da atividade”. Mas não foi isso que aconteceu.
Os dados coligidos pela TTR Data até 27 de março apontam para uma queda de 29,7% no número de transações, face ao ano passado, para 111, e uma descida ainda mais pronunciada, de 71,4%, no valor das transações, para 915 milhões de euros.
A informação da plataforma financeira também mostra que janeiro e fevereiro foram piores do qualquer um dos meses de 2024 em termos de valores transacionados, e fevereiro foi o que menos operações teve registadas em mais de um ano.
“Iniciámos o ano com um pipeline de operações muito interessante, mas sentimos um certo arrefecimento do mercado nos meses de fevereiro e março causado sobretudo pelo clima de incerteza política nacional e internacional”, diz ao JE Mariana Norton dos Reis, sócia cocoordenadora da área de Societário e M&A da Cuatrecasas.
Em março, que ainda não terminou e por isso não há ainda dados finais, registaram-se, até ontem, apenas 29 operações, que movimentaram 520,5 milhões de euros.
As eleições para a presidência norte-americana realizaram-se a 5 de novembro, com Donald Trump a vencer por larga margem e o Partido Republicano a conquistar maiorias na Câmara de Representantes e no Senado, sinalizando um mandato com poder reforçado. A investidura realizou-se a 20 de janeiro e desde essa altura que se sucedem decisões, com impacto interno e externo, como a imposição e tarifas aduaneiras, o que intensificou a guerra comercial entre os diferentes blocos.
“Persistem alguns desafios, designadamente a instabilidade geopolítica e a ameaça tarifária”, diz João Caldeira, sócio de Corporate M&A da CMS Portugal. “Será a interação destas pressões a determinar a evolução do mercado de M&A”, acrescenta.
Nota-se o “esperar para ver” dos empresários nas operações transfronteiriças, que estão muito abaixo do verificado no ano passado (neste primeiro trimestre incompleto). As aquisições feitas no setor de tecnologia e internet caíram 65,2% e o investimento de fundos de private equity e de ventura capital estrangeiros em empresas portuguesas diminuiu 80%.
Em Portugal, a crispação entre os diferentes partidos políticos culminou na apresentação de uma moção de confiança pelo governo, que foi rejeitada na Assembleia da República, o que leva o país para as terceiras eleições legislativas em três anos.
Otimismo para nove meses
“Há sinais positivos em certos setores que podem determinar um segundo semestre forte designadamente no que respeita ao private equity, em que vemos bastante liquidez no mercado e necessidade de realizar exits estratégicos assegurando retornos para os investidores”, aponta Rafael Lucas Pires, sócio cocoordenador da área de Societário e M&A da Cuatrecasas.
Do início do ano até 27 de março foram registadas 11 operações, tendo sido concluídas nove, que movimentaram 35 milhões de euros, revelam os dados da TTR Data.
“Agora, as projeções para 2025 são mais otimistas. A expectativa é que o mercado de M&A comece a se recuperar à medida que as condições económicas melhorem, especialmente com a expectativa de que as taxas de juros mais altas comecem a perder impacto”, diz Marta Romano de Castro. “Em setores estratégicos da economia sentimos que a atividade de M&A vai recuperar ainda este ano”, acrescenta.
Até agora, tal como tem acontecido nos últimos anos, os setores mais ativos são os do imobiliário e de Internet, Software & IT Services, mas ambos estão em queda no número de operações, 26% no primeiro caso, 17% no segundo.
“As perspetivas para a atividade de M&A no ano de 2025 são boas e assentam em diversos fatores incluindo, entre outras, a disponibilidade de capital, a expetativa de chegada ao mercado de ativos disponíveis para venda, a correção da valorização dos ativos e a significativa redução das taxas de juro em 2024”, reforça João Caldeira.
No seu serviço de radar, que procura identificar oportunidades, a TTR Data aponta maiores possibilidades para operações para expansão de negócio e para a entrada no mercado, seguindo-se o investimento direto estrangeiro.
“As expectativas para o mercado de M&A em 2025 continuam a ser de crescimento embora com moderação relativamente ao que se pensava no final de 2024”, diz Rafael Lucas Pires.
“É expectável que o ano de 2025, apesar do começo algo desencorajador, se venha revelar um ano de crescimento expressivo”, afirma Caldeira, mais otimista.