As eleições gerais na Índia devem resultar numa perda de maioria do BJP, o partido do atual primeiro-ministro Narendra Modi, um cenário bastante inesperado e que já está a causar alguma agitação nos mercados. As bolsas indianas caíram mais de 5% na sequência das notícias que avançam a perda de maioria parlamentar para Modi, isto após atingirem máximos históricos no fim-de-semana passado.
Os índices indianos recuaram perto de 5% durante o dia de terça-feira, com o Nifty 50 a fechar com perdas de 5,9% e o BSE Sensex 30 a recuar 5,7% no dia, tendo ambas as bolsas chegado a estar a perder 8,5%. Tal segue-se aos máximos históricos registados no dia anterior, segunda-feira, quando a expectativa geral passava por novo mandato de Modi com maioria parlamentar.
A projeção dos investidores passava por uma vitória esmagadora do atual primeiro-ministro e do seu partido, mas as primeiras contagens apontam para uma provável perda de maioria na câmara baixa do parlamento indiano. E se o mercado via com otimismo nova legislatura do BJP, apontando a taxas elevadas de crescimento num dos países com maior potencial económico no mundo, uma divisão de poder é algo que mina a sua confiança.
A economia indiana cresceu 7,2% no ano passado, registando a sua taxa mais alta entre os 20 países mais ricos do mundo. Simultaneamente, as bolsas indianas mais que triplicaram de valor desde que Modi assumiu o cargo em 2014.
A maior eleição parlamentar no mundo, com pouco menos de mil milhões de eleitores registados, realizou-se em sete fases que se vinham prolongando desde abril, culminando no arranque da contagem oficial esta terça-feira. Ao contrário do que vinham sugerindo as sondagens à boca das urnas até ao fim-de-semana passado, o BJP de Modi deve perder a maioria, o que retira estabilidade à cena política e económica indiana.
Com mais de metade dos votos contados, o BJP está em linha para conquistar 240 dos lugares na câmara de 543 assentos, ou seja, longe dos 272 necessários para atingir a maioria. O Congresso Nacional Indiano (INC), o partido herdeiro do legado de Mahatma Gandhi e onde militam os seus sucessores, deve chegar aos 99 deputados, muito acima dos 52 conquistados em 2019.
Nas primeiras reações, os analistas atribuíram a derrota de Modi à incapacidade do primeiro-ministro conter a crise de inflação e as elevadas taxas de desemprego (o Centro de Monitorização da Economia Indiana, um think-tank privado, estima este indicador em 8% em fevereiro deste ano), à impopular reforma do recrutamento militar e à campanha divisiva e inflamatória que conduziu, reforçando os medos de parte da população com a retórica ultranacionalista e conservadora hindu.
Por outro lado, os analistas económicos da Goldman Sachs sublinham que a preferência dos empresários consultados passava pela continuidade política, mas a prioridade é o avanço de reformas relativas ao mercado laboral e à propriedade. Segundo o banco de investimento, “os ganhos no crescimento de uma maior participação laboral e maior produtividade superam os de apenas aumentar as taxas de investimento”.
Como tal, o país tem de “manter-se inabalável em reformas estruturais”, almejando também à criação de infraestruturas e apontando aos mercados de indústrias de manufatura/intensivas em mão-de-obra, no sector primário e nos serviços exportáveis. Tal é ainda mais premente dado que “a janela será a maior nos próximos anos, à medida que as empresas realinham as suas cadeias de fornecimento”.