A doutrina divide-se. Agitado ou batido? A frase ecoa. “Shaken, not stirred” não deixa margem para dúvidas. Numa poltrona, ali ao lado, ouve-se a explicação. “Nunca tomo mais do que uma bebida antes do jantar. Mas gosto que ela seja grande, muito forte, muito fria e muito bem feita. Odeio as pequenas quantidades – especialmente quando sabem mal”. Quem o diz? Bond. James Bond. O comandante-agente secreto ao serviço de Sua Majestade teve uma vida real e andou por Lisboa quando a capital portuguesa era um ninho de espiões a disputar mentiras e rumores.
A informação era o bem mais precioso e qualquer país pagava por ela. A tal poltrona existe, só faltou Bond nela sentado. Mas a imaginação é a nossa melhor amiga, tal como os porteiros de hotel e empregados de bar, que nos garantem ter visto James ali no bar. A literatura, tal como o cinema, também nos inebria de mentiras. Ou, melhor dito, ilusões. Consta que Ian Fleming criou James Bond à boleia das suas idas ao Bar do Hotel Palácio, no Estoril. Mais. No seu primeiro livro, Casino Royale, o autor situa a ação na costa francesa, quando os penhascos da Bretanha são em Cascais, o casino é o do Estoril e os hotéis Hermitage e Splendide são, na verdade, os hotéis Palácio e Parque, também no Estoril.
Outra verdade? Foi o agente dos Serviços Secretos de Sua Majestade que transformou o Dry Martini – chamou-lhe “Vesper” – na bebida mais sofisticada do mundo, indispensável à imagem do macho elegantemente vestido, ás do volante de carros de alta cilindrada, durão implacável contra os maus da fita – os russos – e galã ao serviço de qualquer loura que se atravessasse no seu caminho. Fica a pergunta: será Bond o alter-ego de Fleming?
Ian Fleming, o homem para lá do mito
Edição para fãs? Seguramente. Mas não só. Os escritos reunidos neste livro ajudam a decifrar o homem que criou o agente secreto mais cinematográfico de todos os tempos e desenhou planos mirabolantes ao serviço da Marinha inglesa.
