Depois de em 2023 ter realizado um investimento de 200 milhões de euros só no mercado português, o Grupo Casais traça como objetivo para este ano superar essa meta. A ambição é transmitida pelo CEO da construtora, António Carlos Rodrigues, em declarações ao Jornal Económico (JE), adiantando também que a carteira para 2024 está fechada: “Temos vários projetos em curso. No ano passado, só em Portugal, fizemos cerca de 200 milhões de euros e este ano penso que temos carteira para mais”.
Entre os vários projetos que estão em curso o CEO destaca as residências de estudantes em Beja e Valença, ao mesmo tempo que aguarda o relatório do concurso público para avançar com uma outra residência na cidade de Braga. “Falta agora o relatório final”, afirma, acrescentando que o mesmo se passa em relação a projetos para Guimarães e Vila Nova de Gaia para habitação a custos controlados.
“No primeiro relatório tivemos uma classificação de adjudicação, mas falta chegar agora ao final com a contratualização. Estamos a preparar-nos para concorrer a mais algumas obras ligadas a esta parte da habitação, porque o tema da habitação acaba por ser um tema que está na ordem do dia, mas para isso também é preciso que os projetos saiam para o terreno. Acho que isso tem sido muito lento”, salienta António Carlos Rodrigues.
O CEO da construtora lamenta também que Portugal não tenha conseguido ter a quantidade de projetos que faziam falta. “Tinham sido anunciadas 26 mil casas. Estamos longe disso”, realça. Além do mercado imobiliário, a Casais está envolvida em vários concursos públicos de alta velocidade. “Essas já são em consórcio com outras empresas portuguesas. Estamos no consórcio português para a alta velocidade da ferrovia”, assume.
Em relação a projetos no mercado internacional, António Carlos Rodrigues destaca a Arábia Saudita, onde o primeiro projeto será no segmento de hotelaria, não descartando posteriormente o residencial. O CEO salienta o facto de o mercado europeu, nomeadamente a Alemanha do ponto de vista económico, ter estado a sofrer um pouco mais desde há um ano para cá.
“Para já, não temos ainda um sinal que possa ter algum impacto na nossa carteira”, sublinha, olhando também para África como um mercado com altos e baixos e onde Angola continua a ser especialmente relevante para a construtora. Ainda assim, o investimento internacional será inferior ao de Portugal. “Temos que ir passo a passo. Estamos numa fase de business development, em que é preciso criar carteira, criar os contratos e por isso é algo que depois só resulta em atividade daqui a um ano, a correr bem”, destaca.
Sobre a atual mudança no paradigma político nacional, o CEO defende que o sector da construção tem de ser “um pouco indiferente” aquilo que acontece. “Temos, obviamente vontade, mas no fundo, as necessidades, quer seja o Governo A ou B ou C, estão lá. A habitação é uma das apostas que nós fizemos. Vai acontecer ou tem que acontecer, independentemente do Governo que estiver em funções”, sublinha.
Uma das propostas dos partidos apontava para a descida do IVA na construção. Para o CEO da Casais, é preciso que os preços sejam de facto mais competitivos e para isso é preciso impostos mais baixos. “É preciso que o Estado também ponha solo no mercado. É preciso uma combinação de todos os fatores: atrair capacidade produtiva da indústria, é preciso criar condições para que ela também possa crescer em termos de infraestrutura para dar mais resposta”, explica.
Questionado sobre se algum material poderá sofrer um aumento de preço em 2024, António Carlos Rodrigues defende que aqueles que estão mais expostos a esse cenário são os que têm uma dependência grande do custo de energia. “Desde que houve a guerra na Ucrânia já nivelou um bocadinho, mas não voltou aos níveis de pré-guerra. Por isso, todos os materiais de vidro, o aço, são materiais que têm alguma intensidade energética”, afirma.
Face a esta situação, o CEO defende que a aposta na utilização da madeira pode ser uma solução para o mercado imobiliário. “A indústria da madeira é muito europeia, porque a construção em madeira nos Estados Unidos é muito mais avançada, mas em madeira, sem a transformação que aqui se faz na Europa, que tem uma indústria bastante capaz. Havendo até um abrandamento da economia nestes países, que até são os que mais consomem a madeira da engenharia até é positivo para nós”, explica.
Entre esses países que consomem mais madeira estão Noruega, Suécia, Alemanha e Finlândia, até porque já utilizam a madeira como solução há 20 anos, exemplifica. “Isto é um problema também de fileira, ou seja, nós teríamos muitos mais projetos deste género se tivéssemos arquitetos, engenheiros e donos de obra muito mais habituados às tecnologias”, refere.
O responsável acredita que Portugal pode ser também um país exportador de madeira no futuro, mas para isso terá que investir e dá o exemplo do Reino Unido que contratou 14 biliões de euros para os próximos sete anos em projetos de edifícios híbridos. “O estado e as entidades públicas assumiram um papel de motor de ignição e colocaram 14 biliões de contratos no mercado. As empresas com esses 14 biliões foram à indústria e disseram ‘tenho aqui uma encomenda’, vou precisar que vocês me entreguem madeira mais sustentável. Acho que aqui ainda nos falta fazer isso”, salienta.
À pergunta se o Estado português tem capacidade para dar o primeiro passo no financiamento, o CEO do Grupo Casais recorda que o Ministério do Ensino Superior foi dos primeiros que fez bem o processo ligado às residências universitárias, que no seu entender têm que estar na vanguarda da tecnologia. “Os critérios que o ministério na altura lançou foram precisamente estes: queremos soluções de construção inovadoras, mais sustentáveis. Por isso, alguns destes projetos universitários vieram com esses requisitos. No fundo, era aquilo que nós também já estávamos a apostar. Esse é um bom exemplo”, conclui.