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Goldman Sachs duvida da capacidade da UE para financiar plano Draghi

O financiamento será dos principais problemas, dadas as quantias consideráveis (cerca de 800 mil milhões de euros anuais) necessárias para acelerar o investimento, mas também a coordenação das estratégias a nível nacional serão um desafio para a implementação do plano Draghi.

O plano Draghi para relançar a indústria europeia tem recolhido reações positivas de governantes, empresários e analistas, com vozes como a presidente do Banco Central Europeu (BCE) a elogiar o relatório e a projetar que as suas recomendações possam inverter a tendência de desindustrialização no Velho Continente. Os analistas do Goldman Sachs concordam que as políticas sugeridas pelo antigo banqueiro têm o potencial para transformar o panorama industrial europeu, mas consideram que a questão do financiamento será das mais difíceis de ultrapassar, permanecendo dúvidas quanto à capacidade de implementar o plano em tempo útil - um aviso ecoado por mais analistas.

Um trabalho “formidável”, com um diagnóstico “severo, mas justo” e recomendações “úteis” – assim descreveu Christine Lagarde, presidente do BCE, o relatório elaborado pelo seu antecessor, Mario Draghi, e apresentado na semana passada à Comissão Europeia. A chefe do banco central vê no plano o mérito de uma análise profunda com conclusões realistas e com impacto estrutural na economia da moeda única, mas afastou-se da sua implementação, atirando a responsabilidade para os governos nacionais.

Este parece ser um dos principais problemas do diagnóstico do antigo banqueiro e presidente italiano, segundo a análise da Goldman Sachs. O banco de investimento (onde Draghi trabalhou durante largos anos) concorda na avaliação dos méritos do relatório, reconhecendo que as suas recomendações têm o potencial para inverter a tendência de desindustrialização na Europa, mas alertam para a dificuldade de o colocar em prática na extensão proposta e em tempo útil.

O plano foca-se na necessidade de canalizar entre 750 e 800 mil milhões de euros anualmente para investimento na UE, o equivalente a 4,5% do PIB e “que colocaria o investimento de volta aos níveis dos anos 70”, escrevem os analistas da Goldman.

“Parece-nos improvável que a UE seja capaz de aumentar o financiamento a não ser que maiorias parlamentares pró-integração europeia emerjam em França e na Alemanha”, lê-se na nota de research do banco, um cenário cada vez mais improvável se olharmos às dinâmicas internas de cada um destes países.

Como tal, a projeção do banco para a emissão de dívida conjunta no espaço europeu em 2025 não se altera com o relatório, sendo que as dúvidas entre os analistas quanto à capacidade de os Estados-membros chegarem a consensos para o financiamento conjunto são muitas.

O gabinete de análise económica e financeira do banco ING também relembra que o ministro alemão das Finanças, Christian Lindner, rejeitou de imediato a ideia de Eurobonds, apontando às dúvidas entre os decisores europeus.

“As eleições parlamentares europeias já mostraram que o ambiente geral é de menos Europa, e não mais”, escrevem os analistas do ING, visitando os tempos da pandemia para argumentar que “a Europa aprendeu a lidar com crises iminentes, mas tem um registo desapontante em enfrentar declínios lentos e estruturais”.

Por outro lado, mesmo ultrapassadas as questões de financiamento, a coordenação das políticas será uma tarefa árdua, defende a análise da Goldman Sachs. Apontando ao sector da defesa (um dos prioritários para as próximas décadas em termos de investimento europeu), os analistas do banco norte-americano lembram que “os gastos militares conjuntos na Europa ficam em linha com a China”, mas o sector está subdesenvolvido “devido a gastos duplicados e aquisições descoordenadas”, tornando menos eficientes os investimentos na área.

Finalmente, o think-tank europeu Bruegel alerta para resultados indesejados de várias sugestões de Draghi, nomeadamente no que concerne à concentração de empresas e descarbonização da economia, alertando que “um aparente desprezo pelas regras orçamentais europeias ou pelas normas comerciais da Organização Mundial do Comércio (OMC) podem tornar os ‘frugais’ europeus ainda menos dispostos a disponibilizar recursos orçamentais”.

“Estas propostas podem ser racionalizadas como parte de nova abordagem de ‘faremos o que for preciso’ para defender a indústria europeia, a sua cadeia de valor e promover a descarbonização na UE”, admitem os analistas do Bruegel, embora temendo que a proposta acabe por “minar ainda mais o comércio internacional ordenado e os esforços europeus para acelerar a descarbonização internacionalmente”.