Algumas seguradoras a operar em Portugal têm admitido estar disponíveis para avançar com processos de consolidação, mantendo-se atentas a quaisquer oportunidades que surjam no mercado para que possam analisar a sua viabilidade, mas o norte-americano Goldman Sachs não espera movimentos no mercado nacional, pelo menos durante um ano. Os responsáveis acreditam que estas transações vão acontecer sobretudo nos Estados Unidos da América (EUA).
"Em Portugal, já houve transações importantes no passado", disse Giorgio Albrecht, Head of Insurance coverage for Southern & Eastern Europe no Goldman Sachs Asset Management, numa conference call com jornalistas para apresentar o "Global Insurance Survey 2024", quando questionado sobre a possibilidade de poder haver movimentos de consolidação no sector segurador em Portugal.
Mais recentemente, o CEO da Mapfre Portugal, Luís Anula, admitiu que o crescimento em Portugal pode passar por aquisições. "Estamos a crescer de maneira orgânica, mas estamos sempre a analisar o mercado para fazer aquisições, já estudámos no passado e continuamos a estudar oportunidades de aquisição, que é sempre a maneira mais rápida de crescer", disse, em entrevista ao Jornal Económico (JE). "Analisámos muitas oportunidades, mas não concretizámos nenhuma", acrescentou, garantindo que continua atento ao mercado. "Este ano vamos ver que novas oportunidades surgem para fazermos aquisições", disse.
Giorgio Albrecht não vê, porém, que isso venha a concretizar-se nos próximos tempos. "Não vemos, neste momento, algo a acontecer [no sector segurador em Portugal] no próximo ano. Os EUA são os principais drivers da consolidação no sector segurador", afirmou o responsável, acrescentando que a "consolidação no sector segurador tem sido uma tendência. Esperamos que esta tendência continue, mas nos EUA veremos mais consolidação do que na Europa. Na Europa vai demorar mais tempo".
No inquérito, realizado entre janeiro e fevereiro de 2024 a 359 CIO e CFO de seguradoras, que representam mais de 13 biliões de dólares em ativos, quase metade dos inquiridos (45%) antecipa que a consolidação do sector segurador vai acelerar e gerar um volume mais elevado de transações ao longo dos próximos anos - uma subida em relação aos 37% que defenderam esta perspetiva no ano passado.
Por outro lado, 51% dos inquiridos esperam que a consolidação da indústria continue ao ritmo atual, o que representa uma descida face aos 54% que responderam o mesmo em 2023. Já apenas 4% das empresas esperam um abrandamento da consolidação entre as seguradoras, uma descida face aos 9% esperados no ano passado.
O movimento de consolidação acontece numa altura em que as seguradoras enfrentam outros desafios, nomeadamente a nível da digitalização e da utilização da inteligência artificial, mas também perante a necessidade de cumprir os critérios ESG (ambiental, social e governance).
O Goldman Sachs conclui que, entre os inquiridos que consideram investir nesta área, 86% dão prioridade a fatores ambientais, enquanto 35% destacam fatores sociais e 33% estão focados na governance. "Na Europa, o investimento em ESG está no top das preocupações das seguradoras", afirmou Giorgio Albrecht na call com jornalistas.
De acordo com o Goldman Sachs, além dos países europeus, também a Ásia tem esta área entre as suas prioridades, com "95% das seguradoras das duas regiões a identificarem fatores ESG como uma das muitas preocupações nos seus investimentos". Do outro lado do Atlântico, a abordagem é diferente. "Embora as seguradoras na América não identifiquem o ESG como o principal driver, a maioria inclui os critérios quando tomam decisões sobre os investimentos", concluiu.