Vive algures numa casa que pertence ao Estado holandês – equipada com uma ‘sala de pânico’, uma espécie de último refúgio em caso de emergência; trabalha no gabinete mais recôndito e de mais difícil acesso do Parlamento; viaja entre estes dois pontos nevrálgicos da sua existência diária dentro de um carro blindado e usa um colete à prova de balas. Visita a mulher – Krisztina, ex-diplomata de origem húngara – uma vez por semana, quando muito, num ambiente que ninguém conseguiria descrever como íntimo. Só recebe pessoas por combinação prévia, depois de estas terem sido minuciosa e digitalmente revistadas, e tem seis guarda-costas em alerta permanente algures num perímetro muito próximo de si.
A vida pessoal de Geert Wilders – que parece ser tudo menos pessoal – passou a ser esta espécie de colete de forças a partir de novembro de 2004, quando a ‘inteligência’ holandesa descobriu dois homens que, na cidade de Haia, se preparavam para assassinar o político holandês. Segundo os serviços secretos, os dois homens faziam parte da chamada Rede Hofstad, composta por jihadistas holandeses, muitos deles nascidos na Holanda, mas quase todos filhos de imigrantes oriundos de países islâmicos.
Desde então, a vida do homem que pode passar a ser o primeiro-ministro holandês a partir da próxima quarta-feira, 15 de março (ou pelo menos que pode ganhar as eleições gerais marcadas para essa data), deixou de ter qualquer outra faceta que não a política. A radicalização do seu discurso político – que não sucedeu desde o início, mas que acabaria muito rapidamente por se tornar marcante – e os ódios que foi fomentando um pouco por todo o lado, tanto no seu país como no estrangeiro, deixavam antever esta espécie de afunilamento do seu destino político.
Isso é algo que se reflete nas sondagens: todas elas apontam para que o seu partido, o Partido pela Liberdade (PVV), dispute o lugar de vencedor das eleições, embora muito longe de qualquer vislumbre de uma maioria absoluta. O que terá uma de duas consequências, caso a hipótese de vitória se concretize: Wilders é nomeado primeiro-ministro da monarquia e os restantes partidos com assento no Parlamento (ou pelo menos alguns deles) voltam atrás nas suas declarações recentes e aceitam fazer uma aliança com o PVV para a formação de um governo com apoio parlamentar; ou, recusando essa aliança, como têm prometido na campanha eleitoral, lançam a Holanda num caos político semelhante àquele por que passou a Espanha no ano passado e a Bélgica há alguns anos.
Mas isso são as contas que têm de ser feitas lá mais para a frente. Para já, Geert Wilders está apenas a desfrutar da premonição que teve há uns anos atrás, quando, em março de 2009, afirmou estar convencido que um dia seria primeiro-ministro do seu país – cujo território quer, aliás, ver alargado através de uma espécie de ‘fusão’ com a Flandres.