Em apenas 34 anos, cabe uma inteira biografia política: inicialmente membro do Partido Socialista francês, foi eleito vereador de Vanves em 2014, tendo sido membro do gabinete da Ministra da Previdência de 2012 a 2017. Em 2017, foi eleito deputado pelo partido En Marche!, de Emanuel Macron, do qual foi porta-voz em 2018 e membro do comité executivo desde julho de 2021. Em 16 de outubro de 2018 foi nomeado secretário de Estado no Ministério de Educação e Juventude do governo de Édouard Philippe, tendo passado a ser o membro mais jovem de um governo na Quinta República francesa. Também foi porta-voz do Governo de Jean Castex de 2020 a 2022, até ser nomeado, em 20 de maio de 2022, Ministro das Contas Públicas no governo de Élisabeth Borne – que este início de semana deixou de merecer a confiança de Emmanuel Macron. Em junho de 2022 foi reeleito deputado e um ano depois ascendeu ao cargo de ministro de Educação Nacional e Juventude. Obviamente, é o mais jovem primeiro-ministro da Quinta República, chama-se Gabriel Attal e é, a acreditar na imprensa francesa, uma grande surpresa.
Também pela idade: com a sua nomeação para primeiro-ministro – um cargo para o qual vários comentadores dizem que, por muito precoce que seja, não pode estar preparado – Macron parece querer reter nas suas mãos todo o poder. A segunda legislatura não está a correr como Macron esperava e os casos difíceis têm vindo a acumular-se, retirando popularidade ao presidente – que é, recorde-se, o verdadeiro chefe do governo francês. Primeiro foi a questão do aumento da idade da reforma – um caso sério em França, onde a sociedade é totalmente contrária ao aumento do número de anos que é necessário acumular até os trabalhadores terem direito à reforma por inteiro. A reforma, que constava do programa de Macron desde sempre, é considerada essencial para a sustentabilidade da segurança social, mas as dificuldades em fazer avançar legislação atesta bem até que ponto a questão é fraturante na sociedade francesa.
Depois, veio a reforma das condições de aceitação de novos candidatos à imigração. A nova lei é tão restritiva que a extrema-direita de Marine le Pen não teve qualquer problema em juntar os seus votos ao En Marche! – mas Macron não se livrou de sofrer uma verdadeira barragem de críticas à esquerda. E mesmo ao centro, a base da sua posição política. O atual presidente não vai poder voltar a concorrer ao cargo de presidente, mas o seu futuro político é ainda uma incógnita. É evidente para todos os analistas franceses que Macron tem um sonho que o levará para fora das fronteiras gaulesas – mas, se no final do primeiro mandato esse sonho parecia fácil de se concretizar, as coisas entretanto ficaram mais difíceis. Os problemas caseiros impediram-no de manter o foco na política externa – ao contrário do que tinha sucedido no seu primeiro mandato – e a Europa afunilou-se no horizonte de Macron.
A inexperiência do novo primeiro-ministro é uma garantia de que o governo funcionará sob o as suas ordens sem qualquer contraditório e no final Macron ainda vai poder dizer que lançou uma nova geração para as cercanias do poder, dando assim mostras de desapego. As presidenciais só terão lugar em 2027 – mas a verdade é que Macron está a entrar na segunda e última parte do seu mandato e mandam as regras políticas mais elementares que comece a ponderar verdadeiramente o seu futuro.
E o futuro – pelo menos o imediato – passa por ter um bom resultado nas eleições para o Parlamento Europeu que decorrerão em junho. Se isso não acontecer, o sonho de sair para a Europa ficará destruído, ou, pelo menos, muito danificado.
“O Presidente da República nomeou o senhor Gabriel Attal como primeiro-ministro e encarregou-o de formar um novo governo”, dizia uma nota divulgada pelo Palácio do Eliseu no início da tarde desta terça-feira. No final da tarde de segunda-feira, a agora ex-primeira-ministra Elisabeth Borne apresentou a sua carta de demissão após 20 meses à frente do governo.
O presidente francês já tinha avançado em dezembro com a intenção de remodelar o seu gabinete para reforçar o partido. E ao anunciar uma espécie de ‘revolução traquila’ no seu discurso de fim de ano, os analistas perceberam que o tempo de mudança estava mesmo a chegar. “Regeneração industrial, económica e também cívica da França”, disse Macron na altura, não poupando ambição.
Mas redes sociais, Macron disse que a nomeação de Attal, um declarado homossexual, o faz “contar com a sua energia e o seu empenho” para implementar o seu projeto de “regeneração”. Macron disse acreditar que o jovem primeiro-ministro pode ser capaz de levar a cabo as mudanças depois de ter implementado reformas no sector de educação, a despeito das críticas de que foi alvo: Attal adotou medidas criticadas pelos partidos de esquerda e por associações de defesa dos imigrantes, como a proibição das abayas, as túnicas usadas por mulheres muçulmanas, nas escolas.
Evidentemente que o jovem político passou de um segundo para o outro para a primeira posição no restrito grupo dos que podem ser herdeiros do ‘macronismo’ quando este, algures em maio de 2027, deixar de existir. Com Attal está, segundo a imprensa gaulesa, o ministro do Interior, Gerald Darmanin, (um ‘velho’ de 40 anos), que é mais ou menos acusado das mesmas coisas pela mesma esquerda francesa. Ou seja, concluem os analistas, Emmanuel Macron passou a primeira legislatura a ‘pescar’ à esquerda e a segunda à direita.
Convém ainda não esquecer os Jogos Olímpicos do próximo verão: Macron quer ver a França a regressar ao topo do pequeno grupo de países que lideram a União Europeia.