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França: primeiro-ministro tenta agradar aos moderados à esquerda e à direita

Os deputados aprovaram o novo imposto sobre as grandes empresas, o que dá algum fôlego político ao primeiro-ministro Sébastien Lecornu. Que continua a tentar o que parece impossível: agradar aos socialistas e manter o apoio do centro e da direita moderada.

A emenda do governo ao Artigo 4, que aumenta a contribuição excecional das grandes empresas e reduz a das médias empresas, foi aprovada por 196 deputados contra 149. A extrema-direita e o Horizons votaram contra, a esquerda, o MoDem e grupo centrista votaram a favor, enquanto o Renaissance de Gabriel Attal (e Macron) e o Les Républicains estavam divididos. Comentando as votações, o líder dos deputados socialistas, Boris Vallaud, considerou que se tratava de um primeiro passo "que exige muitos outros" e expressou preocupação com a divisão da "base comum". "Isso não é tranquilizador para o futuro", avaliou, citado pela imprensa.

Do ponto de vista político, de qualquer modo, as palavras do líder socialista são avaliadas pelos analistas como uma ‘ponte política’ para um entendimento que pode ser mais vasto e permitir ao país ter um Orçamento de Estado até aos últimos dias do ano. Por outro lado, o entendimento das duas fações, o executivo e os socialistas, dissipa algumas nuvens negras quanto à possibilidade de estes últimos deixarem de apoiar Sébastien Lecornu. Os socialistas disseram na passada semana que, se o executivo não gizar um novo imposto para os muito-ricos, deixará de prestar o seu apoio e votará favoravelmente qualquer moção de censura – podendo mesmo avançar com uma. Para já, os ânimos parecem ter acalmado na capital gaulesa.

Mas não muito. "Não tenho acordo com o Partido Socialista", garantiu Lecornu aos senadores – a câmara alta dominada por uma aliança entre a direita e os centristas, que se tem mostrado preocupada com as concessões feitas pelo governo à esquerda. O chefe do governo recebeu os líderes daqueles grupos parlamentares na tarde desta segunda-feira – estando entre eles Mathieu Darnaud (Les Républicains), Hervé Marseille (UDI, centrista), Claude Malhuret (Horizons) e François Patriat (Renaissance).

"Não tenho um acordo com os socialistas" sobre o Orçamento, repetiu Sébastien Lecornu, segundo relatos de vários participantes da reunião citados pela agência France-Presse. A ala direita do Senado opõe-se fortemente à suspensão da reforma da previdência: o presidente do Senado, Gérard Larcher, alertou no fim-de-semana para que a câmara alta restabeleceria a chamada ‘reforma Borne’ se a Assembleia, a câmara baixa, a removesse do orçamento da Previdência Social.

Embora vários líderes senatoriais tenham lamentado a falta de diálogo entre o governo e a câmara alta nos últimos dias, Sébastien Lecornu e os líderes dos grupos "concordaram com uma coordenação regular", foi também garantido. Mas a troca de ‘galhardetes’ não esconde que o primeiro-ministro está a tentar não dissipar o entendimento com os socialistas, ao mesmo tempo que tenta não afastar os centristas e a direita moderada das proximidades do seu executivo. Para vários analistas, Lecornu arrisca-se, isso sim, a perder ambos os apoios, uma vez que acabarão por ‘destruir-se’ um ao outro.