Foi Marine Le Pen quem permitiu a Michel Barnier formar o seu governo – e isso é tudo o que a líder da extrema-direita podia pretender para se tornar, a partir das eleições de 2027, a presidente da República francesa. Contará para isso com a ameaça constante de retirar o apoio a Barnier – que cairá se tiver de enfrentar uma moção de censura patrocinada pela extrema-direita, a não ser que a esquerda votasse contra essa moção, o que é altamente improvável. Além disso, enquanto ‘obriga’ Barnier a contentar a extrema-direita, não está diretamente no poder, o que permitirá a Le Pen precaver-se nestes próximos dois anos e meio – altura em que a política francesa estará em regime de crise constante.
De qualquer modo, a política oficial do partido é ser contra este governo, que mistura Les Républicains (LR, o partido originário de Barnier) e representantes da ex-maioria macronista. "Um governo sem futuro", confirmou Jordan Bardella, líder do Rassemblement National (RN, o partido de Le Pen). Com 126 deputados, o RN tem um poder sem precedentes para aumentar a pressão sobre um governo que só deve a sua existência às concessões feitas à extrema-direita.
Desde a nomeação de Michel Barnier para o Palácio de Matignon, em 5 de setembro, o RN tem tido o cuidado de não definir quaisquer linhas vermelhas com precisão. O ex-Comissário Europeu sabe que, depois de ter evitado escolher como membros do governo pessoas que a extrema-direita pudesse considerar ‘não-elegíveis’, terá de dar garantias sobre o bloqueio ao aumentos de impostos e sobre a luta contra a imigração e a insegurança. No final, Marine Le Pen levará os louros dessas políticas – que todos os franceses sabem ser a ‘autora’ delas.
Vários executivos do RN afirmam que o primeiro-ministro não sobreviverá ao exame do orçamento de 2025 num hemiciclo paralisado pela ‘tripolarização’ resultante das eleições de 30 de junho e 7 de julho.
No outro extremo, o líder da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon - cujo movimento, França Insubmissa, faz parte da coligação maioritária de esquerda na Assembleia Nacional - apelou a que os franceses se "livrem o mais rapidamente possível" deste governo.
Seja como for, depois de onze semanas, os franceses finalmente têm um novo governo. É mais à direita e mais conservador do que qualquer outro sob os comandos de Emmanuel Macron e a maioria dos ministros é bastante desconhecida dos franceses. Quanto tempo irá a equipa de Barnier sobreviver é a pergunta que todos fazem.
Entre as poucas figuras proeminentes do novo executivo contam-se Bruno Retailleau, senador conservador desde 2004, e o centrista Jean-Noel Barrot, ministro para os Assuntos Europeus desde fevereiro deste ano. O ministro das Forças Armadas, Sébastien Lecornu, e Rachida Dati na Cultura, mantêm as pastas. A única figura da esquerda é o novo ministro da Justiça, Didier Migaud.
Os ministros que compõem este novo executivo são: Antoine Armand, Ministro da Economia, das Finanças e da Indústria; Didier Migaud, Ministro da Justiça; Sébastien Lecornu, Ministro das Forças Armadas e dos Veteranos; Bruno Retailleau, Ministro do Interior; Jean-Noël Barrot, Ministro dos Negócios Estrangeiros; Anne Genetet, Ministra da Educação; Geneviève Darrieussecq, Ministra da Saúde e do Acesso aos Cuidados; Paul Christophe, Ministro dos Assuntos Sociais; Annie Genevard, Ministra da Agricultura e da Soberania Alimentar; Agnès Pannier-Runacher, Ministra da Transição Ecológica e da Energia; Guillaume Kasbarian, Ministro da Função Pública; Maud Bregeon, Porta-voz do Governo; Laurence Garnier, Ministra do Consumo; Paul Christophe, Ministro da Solidariedade; Astrid Panosyan-Bouvet, Ministra do Trabalho, do Emprego e da Integração; Patrick Hetzel, Ministro do Ensino Superior e da Investigação; François Noël Buffet, Ministro do Primeiro-Ministro para o Ultramar; Gil Avérous, Ministro do Desporto, da Juventude e do Voluntariado; Valérie Létard, Ministra da Habitação e da Renovação Urbana; Sophie Primas, Ministra do Comércio Externo; Agnès Canayer, Ministra da Família e da Primeira Infância; e Marc Ferracci, Ministro da Indústria.