"Esse acordo tem 20 anos de tentativas e não tem mais razão de não acontecer. O presidente Lula já falou com muitos líderes, como o da Alemanha, por exemplo e até mesmo as lideranças na UE. Estamos vendo em vários países, à exceção de França, que a gente compreende que tem problemas internos, uma boa vontade para que esse acordo saia. Estamos falando do maior bloco económico do mundo, 700 milhões de pessoas", disse, referindo-se ao Mercosul que conta com a Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai como membros.
O projeto está a ter "muito boa vontade do atual Governo português, porque é algo interessante para Portugal, para o Brasil e também para que a gente possa ter uma aproximação cada vez maior com Portugal, que possa chegar na Comunidade de Língua Portuguesa na CPLP e também ter uma presença brasileira mais forte na Europa", afirmou.
Na semana passada, Lula da Silva abordou as dificuldades para chegar a acordo. “Passaram 30 anos dizendo que era o Brasil que não queria fazer o acordo. Nós decidimos, temos proposta, não inventem outro argumento para dizer que vão dificultar o acordo”, disse o presidente brasileiro em Brasília.
Um dos entraves é a questão da implementação da lei anti-deflorestação da União Europeia, que entra em vigor a 1 de janeiro de 2025. Segundo o Governo brasileiro, esta lei pode criar um prejuízo de 15 mil milhões de dólares às exportações brasileiras de produtos como soja, café, cacau e produtos florestais.
Um dos maiores críticos deste acordo é a França e o presidente gaulês tem sido bastante vocal nas suas críticas. "O Mercosul é um péssimo acordo como está a ser negociado agora. Este acordo foi negociado há 20 anos. Não o defendo, não é o que queremos. Deixemos de lado este acordo e construamos um novo, mais responsável, prevendo questões como o clima e a reciprocidade", disse Emmanuel Macron, em março, durante uma viagem ao Brasil.
As negociações arrastam-se desde 1999 e têm o objetivo de facilitar o comércio entre os dois continentes e reduzir as tarifas, mas passados 25 anos ainda não há acordo fechado. França bloqueou o acordo em 2019 numa altura em que Macron e Bolsonaro estavam em guerra aberta.
Macron está pressionado pelo poderoso sector agrícola francês, que sente-se ameaçado com um acordo que abre as portas da UE a produtos agrícolas da América do Sul.
No início deste mês, o Governo português, em conjunto com vários países europeus, pressionaram Ursula von der Leyen para uma "rápida conclusão das negociações", até ao final deste ano, revelou a "Lusa".