Serão 577 os deputados que este domingo iniciaram o seu percurso para a Assembleia Nacional, mas não já. De algum modo, está tudo nas mãos do presidente Emmanuel Macron: com a necessidade de uma segunda volta (a 7 de junho) , apenas dos dois candidatos mais votados em cada círculo passam à fase seguinte. Num quadro em que a extrema-direita venceu, resta saber se Macron irá ou não aceitar forçar a desistência dos seus candidatos, nos círculos onde a sua eleição à segunda volta possa ser difícil, e promover a concentração de votos nos candidatos da Nova Frente Popular (a coligação de esquerda que engloba comunistas, socialistas radicais de esquerda e verdes, fundamentalmente).
Durante a campanha eleitoral, Macron optou por não ser definitivo sobre a matéria e não quis responder diretamente – um ‘sim’ ou um ‘não’ – à questão, que lhe foi insistentemente colocada. Era evidente que nunca iria responder – dado que soaria como uma derrota antecipada – mas agora, e até ao próximo domingo, já não poderá furtar-se por mais tempo.
Quanto ao mais, nada de novo: a extrema-direita saiu vitoriosa, mas pode agora suceder-lhe o que é costume. Ou seja, os candidatos do partido de Marine Le Pen e de Jordan Bardella irão agora confrontar-se com coligações de toda a ordem em que o fito é ‘todos contra um’. Tem sido assim em todas as eleições parlamentares que têm sucedido desde que o partido da família Le Pen deixou de ser uma irrelevância política.
Num quadro em que as sondagens à boca das urnas não é uma prática comum, a extrema-direita deverá ser a mais votada, com 37% dos votos (o que daria para eleger 260 a 310 deputados), seguida da coligação de esquerda, com 28% (115 a 145 deputados) e só depois o partido de Macron, com 20% (90 a 120 deputados). Os depauperados Les Republicans ficam em quatro lugar, com a possível eleição de 30 a 50 deputados. Seja como for, segue tudo, ou quase (haverá por certo círculos em que já há eleitos, os que conseguiram mais de 50% dos votos) para a segunda volta.
Três grandes blocos políticos estão a competir: A Aliança Centrista (Juntos) do presidente Emmanuel Macron, encabeçada por Gabriel Attal, o Rassemblement National (RN), partido de extrema-direita liderado por Jordan Bardella, e a coligação Nova Frente Popular, que inclui forças de centro-esquerda, verdes e de extrema-esquerda.
As primeiras indicações dizem que 67% dos franceses foram votar – o que é um número significativo, mesmo num país onde a abstenção não é, tradicionalmente, um grande problema.
Na sua primeira intervenção, logo a seguir ao fecho das urnas e de conhecidos os primeiros resultados, Marine Le Pen pediu aos franceses para manterem o voto no seu partido, para assegurar uma maioria confortável para as cores da extrema-direita. E voltou a dizer que a ‘diabolização’ da extrema-direita – tentada por todos os outros partidos – é uma hipótese sem qualquer sentido, dado que um eventual governo chefiado pelo seu partido não irá optar por nenhuma dos ‘cortes epistemológicos’ antecipados pelos seus adversários. Do outro lado, o discurso de Jean-Luc Mélanchon, um dos líderes da coligação de esquerda, foi basicamente idêntico – não se tendo, de qualquer modo, esquecido de salientar que a segunda posição da esquerda é uma oportunidade que não pode ser desperdiçada. Oportunidade essa, afirmou, que se deve à participação dos jovens – maioritariamente interessados, afirmou, em bloquear a emergência da extrema-direita.
Finalmente, Emmanuel Macron disse que é necessária “uma grande união nacional e republicana” – apelando também ao reforço dos votos no seu partido. Mas, pouco depois, o ‘seu’ primeiro-ministro, Gabriel Attal, preferiu zurzir com grande violência verbal a aliança de esquerda, voltando a lançar dúvidas sobre o que irá seguir-se nesta próxima semana de todas as tenções.
A segunda volta é disputada entre os dois candidatos mais votados. Mas, tal como pode suceder que em alguns círculos já haja uma decisão final (se algum dos candidatos tiver ultrapassado os 50% à primeira volta), também pode acontecer que a segunda volta seja disputada por três candidatos. Isso sucede se houver três candidatos acima da fasquia mínima dos 12,5%.