O ‘drama Macron’ continua: a extrema-direita de Marine Le Pen teve mais de 31% dos votos nas eleições para o parlamento europeu. Pois bem, se as eleições antecipadas fossem hoje (ontem), teria 34%. A transferência não é fácil, dado que o sistema eleitoral é muito diferente, mas permite a perceção de que a estratégia do presidente Emmanuel Macron não está a funcionar.
Macron deu uma extensa conferência de imprensa, na qual o mote mais óbvio foi o apelo à reconstrução do centro do espectro político – onde, disse, está a fidelidade francesa aos princípios republicanos e aos democráticos. Par isso, zurziu as duas coligações que se formam (ou talvez não) à direita e à esquerda do partido do presidente. Não as tratou de igual modo – Macron tratou de diabolizar bem mais a extrema-direita e menos a extrema-esquerda (de que talvez venha a precisar num futuro muito próximo) – mas tentou arremessá-las para o mesmo lugar da irrelevância política. Não o conseguiu – as sondagens falam por si – mas tentou.
O chefe de Estado disse que "a equação parlamentar" tornou-se "insustentável", tendo "as oposições manifestado várias vezes a sua disponibilidade para votar a favor de uma moção de censura no outono". Emmanuel Macron disse, portanto, que "tomou nota de um bloqueio que inevitavelmente levou a impedir o governo de agir, o que estava a tornar-se perigoso para a França".
Muito possivelmente, o horizonte político imediato vai tornar-se ainda mais perigoso: muitos analistas – entre eles Francisco Seixas da Costa em declarações ao JE – antecipam mais um penoso período de co-habitação (assim chamam os franceses aos momentos em que a cor política do presidente não é a mesma da do primeiro-ministro. Nada de novo, mas sempre um momento de tensão “que Macron gostaria de evitar.
Um vazio ao centro
Entretanto, o centro, consubstanciado em Os Repubicanos – que esta terça-feira trataram de propor aos extremistas de direita uma coligação pré-eleitoral – fizeram um grande favor a Marine Le Pen e ao seu jovem líder: o Republicanos está em estado avançado de deterioração e, evidentemente, a debandada faz-se no sentido de Macron e no sentido de Le Pen, conforme os gostos, sendo para já difícil de perceber qual é o caminho de fuga mais utilizado. Para todos os efeitos, nas eleições que decorrem dentro de pouco mais de duas semanas, o Republicanos será sem dúvida um contribuinte líquido para o crescimento do Reagrupamento Nacional.
Para Macron, "dois terços dos franceses entendem e querem esta dissolução", assegurou. Segundo ele, "todos viam a água da extrema-direita a subir", mas "cada um estava a conduzir o seu próprio barco". As metáforas marítimas deram lugar a uma confissão: "Não quero dar as chaves do poder à extrema-direita em 2027. Quero um governo que possa agir para atender às preocupações" dos franceses. Para já, parece estar muito longe de o conseguir.