A notícia chegou pela Reuters e revela que a Fosun International está aberta à venda de sua participação remanescente no Millennium BCP (que é de 20,03%), após alienar algumas ações no início deste ano. A informação foi recolhida pela agência noticiosa junto de duas fontes familiarizadas com o processo. Mas a Fosun prepara-se para fazer um comunicado sobre esta notícia.
A sustentar a tese de que a Fosun pode vender os 20% do BCP está o facto de o conglomerado chinês precisar de liquidez para fazer face à pressão da dívida.
Recorde-se que depois de a Fosun ter vendido 9,91% do capital do banco liderado por Miguel Maya, no comunicado publicado na bolsa de Hong Kong, o grupo chinês dizia que “tenciona utilizar as receitas das transações para o fundo de maneio geral do grupo” e acresccentou que a venda das ações “demonstra igualmente os esforços contínuos do grupo para criar o máximo valor para os seus acionistas".
A Reuters referia que a Fosun tem avaliado várias opções, como encontrar um comprador estratégico para a participação de 20%. Uma informação não confirmada pela Fosun.
A participação de 20% no BCP valia cerca de 836 milhões de euros na segunda-feira, segundo dados do LSEG citados pela Reuters.
Recentemente o Deutsche Bank emitiu uma nota dizendo que “é muito provável que a Fosun continue a reduzir a sua participação” no BCP a partir do dia 22 de março, data em que acaba o período de diferimento de 60 dias em que a acionista chinesa não pode vender as restantes ações.
A decisão de vender ou não os 20% do BCP tem de ser vista à luz do que essa participação representa. É que a Fosun tem de escolher entre o encaixe financeiro da venda e a presença com uma participação estratégica num banco europeu, que cada vez é mais díficil de conseguir.
Em 2016 o Banco Central Europeu deu “luz verde” a que a Fosun comprasse 16,7% do capital do maior banco privado em Portugal. A operação foi concretizada através de um aumento de capital do BCP reservado ao grupo chinês que é dono da Fidelidade.
O BCP e a Fosun assinaram na altura um memorando de entendimento onde ficou estabelecido que o grupo chinês poderia subir a participação do capital do BCP e com o direito de indicar três administradores não executivos. Este reforço exigiu, para além da autorização do Banco Central Europeu, a alteração dos estatutos do banco que limitavam os direitos de voto a 20% do capital. A Fosun foi reforçando e chegou a 29,95%. Já com o limite de voto estatutário nos 30%.
Isso explica que os chineses tenham anunciado, no fim de janeiro, a alienação de apenas 5,6% do capital do banco por meio de um processo de accelerated bookbuilding junto de investidores institucionais qualificados ao preço de 27,8 cêntimos por ação.
Desde 13 de novembro do ano passado que os chineses da Fosun tinham estado a reduzir a participação que detêm no BCP. Recorde-se que a Fosun vendeu no mercado, entre 13 de novembro do ano passado e 9 de janeiro deste ano, cerca de 652 milhões de ações do BCP (4,31% do capital). O objetivo era manter a fasquia dos 20% para a qual tem luz verde do BCE. O regulador só era chamado a pronunciar-se se fossem ultrapassados os 30%, o que nunca aconteceu.
Um porta-voz do grupo chinês disse, na altura, que pretendia manter uma participação acima de 20%.
A Fosun está a rever outros investimentos em instituições financeiras, segundo a agência noticiosa. De acordo com a Bloomberg, a Fosun está a considerar a venda da sua participação na seguradora Ageas.
Na semana passada, o grupo chinês revelou num documento que tinha celebrado um contrato a prazo pré-pago com um banco de investimento para vender 1,8% da seguradora belga ao longo do tempo.
A Fosun está também a estudar um possível IPO (oferta pública inicial) parcial da seguradora Fidelidade, provavelmente para 2025, tal como avançou em primeira mão o Jornal Económico. A Reuters confirmou essa notícia, citando um porta-voz da Fidelidade.
O que representa para o BCP esta indefinição?
A saída da Fosun do capital do BCP é importante para o banco liderado por Miguel Maya, pois a Fosun é o maior acionista individual do BCP, seguida da petrolífera estatal angolana Sonangol, com 19,49%.
A instabilidade da estrutura acionista do BCP não se fica pela incógnita em relação à futura participação da Fosun. É que também a Sonangol tem dado sinais de que poderá sair do BCP.
Sebastião Gaspar Martins, presidente executivo da Sonangol, disse recentemente que “há muita pressão” para vender a posição de 19,49% que a petrolífera angolana detém no BCP.
“O ativo (BCP) está numa situação muito positiva, e antes de tomar qualquer decisão, temos de concertar com o Estado”, disse o presidente da Sonangol na conferência de imprensa, cuja gravação o Jornal Económico teve acesso.
Questionado sobre a venda da participação no BCP, Sebastião Gaspar Martins referiu que “há muitas empresas e fundos do exterior interessados em que isso aconteça, mas nós só o vamos fazer em concertação com o Estado”.
De momento não há indicação de vender a participação do BCP, frisou. Mas o "de momento" não deixa o BCP descansado.