O desemprego estabilizou durante julho em Portugal, mantendo-se em 6,3%, o que reflete uma subida homóloga de 0,3 pontos percentuais (p.p.). Ao mesmo tempo, o emprego recuou ligeiramente e a taxa de inatividade subiu, embora com variações marginais. O presidente do Fórum para a Competitividade lembra que o combate à inflação costuma ter efeitos do lado laboral, pelo que é expectável que o desemprego historicamente baixo dos últimos meses comece a subir. Mas não de forma preocupante, defende Pedro Ferraz da Costa em declarações ao Jornal Económico. Deixa, porém um alerta: as perspetivas nacionais "não podem ser as mais otimistas" face à quebra de atividade da zona euro.
Os dados do INE mostram uma estabilização do desemprego em 6,3% depois do pico no início do ano, quando atingiu 7%. Ainda assim, em termos absolutos, tanto os desempregados nacionais, como os empregados decresceram no período em análise: a população desempregada recuou 1% em relação a junho, enquanto a empregada desceu 0,1%. Já a inflação voltou a agravar em agosto com a subida dos combustíveis. Depois de nove meses em queda, a taxa de inflação em Portugal inverteu essa tendência e acelerou para 3,7%, contra 3,1% em julho, de acordo com uma primeira estimativa divulgada na semana passada pelo INE.
Envolvida numa luta contra a inflação elevada que se faz sentir que estabilizou em 5,3% em agosto, a economia da moeda única tem enfrentado a mais agressiva subida de juros desde a sua formação, vendo as taxas de referência disparar 425 pontos base (p.b.) no último ano. Apesar da estabilidade manifestada pela taxa de subida dos preços, não é claro que o Banco Central Europeu ponha um travão ao aumento das suas taxas diretoras na próxima reunião de 14 de setembro.
Pedro Ferraz da Costa recorda a dicotomia entre controlo da inflação e pleno emprego, argumentando que “não é possível ter as duas coisas ao mesmo tempo”. Realça aqui que “o turismo deu uma contribuição muito grande nos outros anos”, um motor que perdeu algum fôlego este ano; por outro lado, “o sector imobiliário já se queixa que as pessoas não compram nem vendem”, pelo que a atividade neste ramo também tem vindo a deprimir, piorando as perspetivas de emprego.
Acresce a isto o enquadramento externo pouco favorável, que leva a menos procura por mercados internacionais fulcrais para a economia portuguesa, como o alemão e o espanhol. Com a zona euro a caminho de uma quebra evidente da atividade, as perspetivas nacionais não podem ser as mais otimistas, afirma o presidente do Fórum para a Competitividade.
“Vamos ter aqui um período um pouco mais difícil”, projeta Pedro Ferraz da Costa, mas sem alarmismos. “Estávamos com um mercado de trabalho sobreaquecido. Não sei se será assim tão mau para a economia haver um número maior de disponíveis para determinadas atividades”, argumenta, lembrando as dificuldades de contratação e escassez de mão-de-obra em inúmeros sectores. Neste capítulo, continua, há alterações estruturais a fazer que poderão contribuir para uma força laboral mais robusta.
“Há um certo desfasamento entre a procura e a oferta de trabalho em Portugal, entre as capacidades disponíveis e o que as empresas precisam”, precisa, apontando o dedo à formação superior, “que nunca quis estar muito voltado para as necessidades reais da economia”.