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Forças de Defesa de Israel admitem práticas de disparar primeiro e perguntar depois

Alto quadro israelita lamenta que práticas de execução estejam a ser usadas pelas IDF desde há vários meses – acrescentando que as condições de combate podem explicar essa terrível postura.

Um quadro de topo das forças de defesa de Israel (IDF), admitiu, citado pelo jornal “The Times of Israel”, que se instalou naquele corpo militar uma cultura de “disparar primeiro e pergunta depois” – que é o mesmo que afirmar que as IDF têm recorrido ao assassinato em vez de fazerem perguntas.

A admissão ocorre após vários ataques a um comboio da World Central Kitchen na passada segunda-feira, que estava a viajar dentro do que deveria ser um corredor humanitário desmilitarizado. Sete funcionários do WCK morreram no local e diversos países – nomeadamente os de origem dos mortos – instaram Israel a investigar exaustivamente os acontecimentos.

O quadro das IDF, que falou evidentemente sob condição de anonimato, disse que aquelas práticas, que configuram pura execução de suspeitos, são usadas desde o final de dezembro, quando as tropas abriram fogo contra três reféns israelitas que conseguiram escapar do cativeiro e agitavam uma bandeira branca quando foram mortos.

Tanto esse incidente como o de segunda-feira, entre vários outros, representaram uma violação grosseira das regras que a IDF cumpria até então, disse a mesma fonte.

“Os soldados estão a operar sob imensa pressão, em condições muito difíceis nas quais o Hamas se insere na população civil, mas as regras são previstas para ajudar a lidar com tais condições, e muitas vezes são ignoradas”, afirmou.

Estas declarações vêm ao encontro da opinião de vários analistas, que têm afirmado que o aumento do perímetro do serviço militar motivou a desqualificação militar das tropas – que não estarão preparadas para agir em cenário de guerra permanente. O aumento do perímetro do serviço militar continua, entretanto, a ser praticado – o que é também uma causa possível para as dezenas de baixas que o exército israelita tem sofrido.

Entretanto, as explicações fornecidas pelo governo israelita sobre o que aconteceu ao comboio atacado pelos militares não convencem os países que exigiram uma investigação cabal ao sucedido. O chefe do governo espanhol, Pedro Sánchez, disse que as explicações fornecidas por Israel sobre a morte das sete pessoas que trabalhavam para a ONG World Central Kitchen são insuficientes e inaceitáveis, e exige mais detalhes.

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu caraterizou o sucedido como “um evento trágico em que as nossas forças atingiram involuntariamente não combatentes”. “Acontece na guerra”, acrescentou. Por seu turno, o chefe do Estado-Maior das IDF, Herzi Halevi, disse que o ataque se deveu a um “erro de identificação” feito em condições complexas de guerra.

“Tudo isto é inaceitável e insuficiente, e estamos a aguardar um esclarecimento muito mais forte e detalhado, após o qual veremos que ação tomar”, disse Sánchez em conferência de imprensa esta quarta-feira, durante uma visita ao Qatar. A World Central Kitchen foi fundada pelo hispano-americano Jose Andres.

Também o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, condenou a morte das sete pessoas da World Central Kitchen. “O que vemos em Gaza é uma catástrofe humanitária. Vemos sofrimento. Vemos que civis são mortos, e também vimos o ataque contra trabalhadores humanitários, e condeno o ataque”, disse Stoltenberg em Bruxelas, onde os ministros das Relações Exteriores da aliança se reuniram. Mas não se esqueceu de saudar o facto de Israel ter garantido que investigará o ataque – num cenário de guerra onde as condições de investigação não serão as melhores.